Morte das abelhas preocupa

José F. Höfling

 

O comprometimento de insetos e as abelhas em particular, no mundo todo, tem sido alvo de preocupação por parte dos governos. Por motivos constatados cientificamente, bilhões de abelhas, borboletas e outros insetos estão morrendo devido particularmente aos agrotóxicos como um dos principais culpados dessa redução da fauna desses organismos. Silenciosamente esse fenômeno vem avançando e as consequências podem ser, num futuro próximo, determinante e catastrófica para a nossa agricultura e ecossistemas globais. Pesticidas (como glifosato) usados criminalmente na agricultura e de forma aleatória, estão entre os principais culpados, levando governos de diversos países a construir propostas para cortar esses pesticidas num espaço curto de tempo. No Brasil, nesse governo, foi ampliado consideravelmente o uso desses pesticidas, inclusive muitos deles já tirados de circulação em outros Países por não atingir os seus propósitos e serem altamente tóxicos causando irreparáveis danos aos biomas (seres do meio ambiente), exaustivamente detectados em outros países. O poderoso lobby das indústrias químicas tem se esforçado para atrapalhar esse plano de diminuir consideravelmente os agrotóxicos. Grupos ambientalistas, fazendeiros, apicultores e cientistas tem se unido nessa luta para garantir que as instituições da União Europeia cumpram essas demandas. O seu conhecimento e posicionamento, pode ajudar parlamentares desse País e de outros a engrossar as fileiras em favor de um projeto dessa natureza, para que eles possam resistir ao exército de lobistas e ajudem a salvar esses insetos de pesticidas mortais. São eles: abelhas, borboletas e besouros e outros tantos polinizadores que sustentam uma parte importante de nossa cadeia alimentar e delicados ecossistemas. É importante, portanto, denunciar a enxurrada de agrotóxicos que adentram o nosso país, particularmente sob a égide do Ministério do Meio Ambiente desde 2018. Mais de 40% das espécies de insetos estão em declínio, sendo que um terço estão em perigo de extinção. Atacar e denunciar esse fato é dever de todos os seres conscientes que habitam esse planeta.

No Brasil, a morte das abelhas não é um fenômeno recente, à semelhança de outros Países, no entanto aqui tem sido significantemente negligenciado.  Imaginem, com tantos problemas que temos tido desde 2018 se um problema dessa natureza não seria posto de lado. Pesquisadores brasileiros tem apontado esse fenômeno desde a década passada, no entanto, ao longo desse ano, a mortandade das abelhas alcançou números alarmantes e isso não somente é um risco para o Brasil, mas para o mundo todo. Dois aspectos chamam a atenção desse fenômeno: a produção de mel e a polinização…que não é só levada a efeito pelas abelhas e sim por demais insetos. Milhares de abelhas tem sido encontradas mortas em vários estados, sendo algumas espécies nativas ameaçadas de extinção. As abelhas são responsáveis pela polinização de cerca de 70% das plantas cultivadas para alimentação, principalmente frutas e verduras. Sua morte coloca em risco a agricultura e, consequentemente, a própria segurança alimentar. Sem elas, o ser humano enfrentaria uma mudança drástica na sua dieta, que ficaria restrita apenas a culturas autopolinizáveis, como feijão, arroz, soja, milho, batata e espécies de cereais. Dessa forma, a sua diminuição ou desaparecimento poderia desencadear a morte de ecossistemas inteiros, sem contar as florestas nativas, além de impactar a economia brasileira, já que o Brasil é o oitavo produtor mundial de mel no mundo. Temos também que levar em conta que resíduos de agrotóxicos poderão ser encontrados no mel, levando compradores estrangeiros a rejeitarem o produto brasileiro desestimulando a sua produção, devido à exportação para a Comunidade Europeia ter regras muito exigentes, onde qualquer resíduo é detectado. O mel que foi produzido este ano, particularmente nos últimos meses pode estar contaminado… A morte das abelhas tem chamado a atenção mundial desde o fim da década de 1990, o colapso das colônias em 2006 ocorrido nos Estados Unidos ampliou essa preocupação. As pesquisas tem revelado que além das doenças e da redução do habitat (lugar em que vivem as espécies), os agrotóxicos são os culpados dessa trágica mortandade, considerando ainda, o uso incorreto de seu uso fruto da inconsciência humana.

Avisos e alertas tem sido emitidos por cientistas, apicultores e ambientalistas…mais uma vez, aqui no Brasil, estaremos à deriva dessa situação à semelhança de outros problemas que afetam o nosso País, mostrando o nosso atraso e negligência na tomada de providências que possam minimizar esses problemas e outros mais tão graves para nós. Ficaremos sós neste planeta? Sobreviveremos sozinhos em meio a ausência de tudo aquilo que existe e nos dá suporte para a nossa sobrevivência como organismos no topo da cadeia alimentar? Veremos… e enquanto isso…a boiada vai passando!

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José F. Höfling, professor da Unicamp

 

 

 

 

 

 

 

 

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