Formação de professores: um direito previsto que não vem sendo respeitado

Lilian Lacerda

 

À luz dos documentos oficiais, uma jornada pedagógica deveria evidenciar o compromisso com as experiências pedagógicas preconizadas no município em interação com seu território de inserção e, sobretudo privilegiando o conhecimento. Em resposta ao questionamento da ausência de formação aos educadores da rede municipal, a SME (Secretaria Municipal de Educação) disponibilizou uma chamada de apresentações orais com as experiências dos docentes. Todavia, o evento denominado por “XIII Jornada Pedagógica da Rede Municipal” será realizado num único dia e sem qualquer compromisso com a formação: cursos, minicursos, palestras, oficinas, workshops.

Apesar do evento fazer parte do calendário oficial da SME e previsto em Leio mesmo não aconteceu no ano de 2020 e para o ano vigente a proposta não atende à demanda dos educadores. Ressalta-se que tivemos mudanças no currículo e o que os educadores receberam, até o momento, restringiu-se a textos formativos sem discussão.

Ademais, os dias em que a jornada pedagógica acontece deveria ser de dedicação integral a formação, liberando assim, os educadores do labor com as crianças para que pudessem absorver e trocar conhecimentos de forma significativa.

Entende-se que a jornada é um momento importante para a formação e reciclagem de conhecimento aos educadores e não pode ser reduzido a um dia de apresentação de experiências. É o lugar, o espaço de aprendizagens, de reflexão, de discussão e debate acerca do fazer pedagógico, de uma nova forma de conceber a educação – haja vista que ainda não superamos a pandemia do COVID-19.

Entenda-se que a jornada pedagógica deveria ser organizada com responsabilidade e com o compromisso de atender as demandas que adentraram a escola e que se interpõe como desafio ao fazer docente por meio de eixos: socioemocional, biossegurança, normativas e cognitivo.

Para além de enfrentarmos a indiferença da SME com a segurança e com a saúde dos profissionais da educação, das crianças e suas famílias, temos o desafio de lidar com a própria formação. Um município com capacidade econômica e recursos técnicos; não demonstra interesse em ofertar formação, além de caminhar na contramão das propostas oficiais e dos documentos com vistas a uma educação progressista.

Cabe salientar que os eventos na modalidade online têm uma abrangência maior e não deixa a desejar, desde que sejam feitas boas escolhas de profissionais renomados.  Esse é o intuito: preparar os educadores, instrumentalizá-los com recursos pedagógicos inovadores e promover seu engajamento no meio em que atuam.

O desprezo com a jornada pedagógica no município se apresenta em todos os sentidos: no anúncio as vésperas de “um dia de apresentações orais dos próprios professores”, na ausência de profissionais conceituados para debater temas de relevância, na falta de um tema para o evento. O município revela dentre outras fragilidades, a falta de compromisso com a educação de qualidade e não é capaz de reafirmar políticas ou garantir os princípios que fundamentam as propostas político pedagógica para a educação infantil, para o ensino fundamental da rede.

Podemos entender o que a SME propôs como formação continuada? Como garantir aprendizagens sem um percurso formativo? A qualidade refere-se à quantidade de alunos atendidos?

A natureza e o sentido da formação continuada e o clamor pela jornada pedagógica incidem na problematização de novos modos de compreender o fazer docente, bem como pelo anseio dos profissionais em responder aos desafios apresentados ao cotidiano escolar.

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Lilian Lacerda, professora, doutora

 

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