Barjas Negri
Luciano Guidotti foi um empresário bem-sucedido. Homem simples, com pouca escolaridade, mas com muita sabedoria. De ignorante não tinha nada! Elegeu-se prefeito de Piracicaba por duas vezes. Na época, transformou a cidade em uma das que mais se desenvolveu no Brasil, ganhando destaque no cenário nacional.
Até hoje é considerado um dos melhores prefeitos que tivemos. Foi na sua gestão que ocorreu a construção da Pinacoteca Miguel Dutra, a criação da Fundação Municipal de Ensino e o início da construção do Teatro Municipal Dr. Losso Netto, interrompida no seu falecimento em 7 de julho de 1968, quando ainda ocupava o cargo de administrador do município. Uma fatalidade.
Mais de 50 anos depois, o nosso teatro continua dinâmico e palco dos melhores espetáculos locais e nacionais. A Fundação Municipal, com seus cursos universitários e técnicos, é referência regional. E a Pinacoteca que resistiu bravamente, mantêm hoje um acervo com cerca de 900 obras de respeitável valor artístico, mais os seus salões de Belas Artes, Arte Contemporânea e de Aquarelas, além de exposições individuais e coletivas. Luciano, o Guidotti, na sua simplicidade e sabedoria construiu e procurou perpetuar equipamentos de educação e de cultura, reconhecidos até hoje, mostrando que um bom gestor faz e não desfaz.
Lamentavelmente, assistimos hoje, um debate desnecessário: a possibilidade de se desfazer do prédio da Pinacoteca, tombado como patrimônio histórico pelo Decreto nº 11.974, de 2007. Isso mesmo! Atualmente a cidade é administrada por pessoas letradas, com cursos superiores e pós-graduação, que da noite para o dia decidem entregar um prédio histórico para a sede da Delegacia da Polícia Federal, “transferindo” todo acervo da imponente Pinacoteca para um local “improvisado” no Engenho Central. Na prática, destroem parte da nossa memória cultural e não sabemos a troco de quê.
Perde a cidade, perde a cultura, perdem os nossos artistas plásticos e perde a nossa história. Se comprova na prática as palavras do sociólogo José de Souza Martins: “historicamente, no Brasil, a ignorância é um juízo de valor e manifestação de poder de quem, em posição de mando, não se considera ignorante”. Algumas pessoas passam pelas universidades, tornam-se bons profissionais, especialistas em suas áreas, mas com enorme incapacidade para entender o cotidiano e a dinâmica do processo evolutivo da sociedade em seus aspectos culturais e sociais.
As pessoas mais simples entendem melhor o Sistema Único de Saúde (SUS), valorizam uma creche pública, sabem o que significa morar numa favela e compreendem melhor as dificuldades dos serviços de transporte. Isso sem falar na utilização de espaços sociais, esportivos e culturais.
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Barjas Negri, ex-prefeito de Piracicaba