Da Amazônia, desmatamentos, a uma Piracicaba incendiada

Eloah Margoni

 

Meu amigo Camilo há meses insiste para que eu escreva sobre os Rios Voadores, os quais vêm da Amazônia e nos trazem chuvas a todo Sudeste, desde antigos e largos séculos seculorum. Ou traziam… O prezado amigo entusiasmou-se com um gráfico encantadoramente didático, que mostra como as nuvens carregadas de umidade formam-se sobre a floresta, como navegam, migram, viajam (ou viajavam) até o sudeste do país, para irrigá-lo. Penso que ele pense que se as pessoas compreenderem de fato esse belo mecanismo, se dele souberem, se virem a figurinha, mudarão de comportamento. Camilo tem esperanças. Eu, por minha vez, alimento tal descrença em relação à razoabilidade do ser humano que colocar um diagrama, conquanto muito ilustrativo, num artigo explicando (de novo), o que nós ambientalistas mostramos continuamente há décadas, seria autoflagelação. Nem João Batista pregou num deserto mais árido do que o nosso! Mas, para não decepcionar Camilo, resumo então a questão: sem florestas de modo geral e sem Amazônia em particular, no sudeste do Brasil não haverá chuva. Haverá desertificação, sem falar das mudanças climáticas, em curso avançado, com eventos extremos. Capisce, cara pálida? Tomara que sim.

Esse é o quadro do país, e é a paisagem regional também que, no município, conta com incêndios diários em toda parte da cidade, inspirados na nova tendência nacional da bandidagem. Qualquer remanescente de mata, de resíduo arbóreo, de área verde tem sido constante e sistematicamente incendiado todos os dias na pobre Piracicaba, que conta com apenas dois carros de bombeiros correndo pra cá e pra lá na cidade, enquanto as ações dos incendiários multiplicam-se como a variante delta do sars-cov 2. Jogo desigual. Além do mais, os múltiplos efeitos nocivos dessas queimadas transpõem bairros, fronteiras e divisas municipais. É problema de todos.

São necessários sérios esforços políticos e administrativos coordenados, atuação eficaz da Polícia Ambiental e Militar, da Sedema, dos Ministérios Públicos, de grupos de cidadãos nas vizinhanças de áreas verdes e matas para que, treinados, fiquem alertas contra incendiários, sem deixarmos de fora empresas particulares com canaviais, especialmente junto às áreas de conservação ambiental.

Incendiários surgem de todos os tamanhos e tipos. Desde proprietários de glebas nas quais pretendem fazer loteamentos, condomínios, que só querem queimar e destruir, até aqueles marginais avulsos, doentes ou sociopatas que ateiam fogo em qualquer lugar que seja possível, para fazer maldades grandiosas.

Contra maus e insensíveis cidadãos que tanto prejudicam a maioria sofrida da população, além das medidas elencadas acima, precisamos de drones, de muitos drones que monitorem, inibindo ataques ambientais ou tornem possível identificar e punir culpados. Os órgãos e poderes administrativos, legislativo, ministérios públicos, ONGs precisam saber disso e também os proprietários particulares de lavouras canavieiras, para tomarem as melhores medidas com toda urgência.

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Eloah Margoni, médica

 

 

1 comentário em “Da Amazônia, desmatamentos, a uma Piracicaba incendiada”

  1. Ouçam a Eloah
    Eu não posso abandonar a esperança, mas a ambientalista e médica piracicabana Eloah Margoni tem razão. Ela tem “os pés no chão”. Cabe atuação da Polícia Ambiental e Militar, Sedema, Ministério Públicos, dos cidadãos comuns e alertas do início de queimadas nas áreas sensíveis secas ou de conservação ambiental, assim também aos canaviais, denunciando contra eventuais incendiários, especialmente junto às áreas de conservação ambiental. É preciso o levantamento por drones que monitorem, inibindo ataques ambientais ou tornem possível identificar e punir culpados – aliás, com a tecnologia de informação que temos é possível reduzir muito os problemas locais, se houver vontade política.
    É preciso pautar a questão que tanto mal faz a todos e conhecer os pontos mais nocivos.

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