A Luta da mulher negra, latino-americana e caribenha

Rai de Almeida

 

Aproxima-se mais um 25 de julho e – com ele – mais um dia de se registrar, de se celebrar e se reverenciar a luta da mulher negra, latino-americana e caribenha. Marco também da luta antipatriarcal e antirracista das mulheres, a data foi instituída nacionalmente pela então presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2014, buscando-se também homenagear com ela à Tereza de Benguela – importante líder quilombola brasileira. No entanto, o dia da mulher negra, latino-americana e caribenha tem suas raízes no início dos anos 90, quando diversos grupos de mulheres criaram uma rede internacional para discutir o combate ao machismo e ao racismo – e organizaram então aquele que seria o primeiro “Encontro de Mulheres Negras, Latinas e Caribenhas”.

A importância de uma data específica para se celebrar a luta da mulher negra, latino-americana e caribenha – diferente do Dia Internacional da Mulher – se dá por conta das diversas especificidades e transversalidades das condições da mulher negra na América Latina. Por isso, e mais do que um dia de celebração, a data marca a história da mulher negra e latino-americana em sua batalha diária, ao longo dos séculos, contra o racismo, contra a violência, por direitos e equidade entre gêneros e etnias. Daí a importância em se destacar um marco que distinguisse — na luta geral que envolve todas as mulheres no mundo, independentemente de suas origens e etnias — a luta específica das mulheres negras que habitam a América Latina.

Vítimas históricas do colonialismo – violentadas, escravizadas e dominadas que foram pelos brancos colonizadores e seus descendentes ao longo dos séculos – a mulher negra, latino-americana e caribenha padeceu e padece ainda hoje da exploração, da discriminação e da força machista, racista e misógina que tristemente ainda a submete em toda a América Latina. Para se ter uma ideia, segundo dados do Atlas da Violência de 2018 – realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) – a taxa de homicídios de mulheres negras ficou em 5,3 a cada 100 mil habitantes nesse ano. Entre mulheres não negras, esse índice cai para 3,1 a cada 100 mil habitantes, uma diferença de 71%.

No mesmo caminho, outras pesquisas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam que as mulheres negras estão 50% mais suscetíveis ao desemprego do que outros grupos. De acordo com o Ipea, enquanto o desemprego entre mulheres negras subiu 80% em relação ao período anterior à crise econômica, entre homens brancos o aumento foi de 4,6 pontos percentuais – e entre homens negros houve crescimento de 7 pontos percentuais. Por fim, e segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 39,8% de mulheres negras compõem grupo submetido a condições precárias de trabalho – enquanto homens negros abrangem 31,6%; mulheres brancas, 26,9%; e homens brancos, 20,6% do total.

Por isso, cumpre novamente apontar a importância de se destacar – no calendário nacional – um dia especial para se marcar de maneira expressiva a luta da mulher negra, latino-americana e caribenha. Igualmente, cabe também a todas e a todos – especialmente àqueles e àquelas que ocupam cargos públicos nas diferentes esferas do Poder – nos esforçarmos para garantir a essas mulheres espaços de vocalização de suas angústias, anseios e necessidades, possibilitando que se empoderem e conquistem cada vez mais o seu lugar de fala, de articulação e poder em todas as dimensões e campos de nossa sociedade.

Nesse sentido, e visando garantir voz a essas mulheres, realizaremos na noite de hoje – sexta-feira, dia 23, às 19h, em nossa página no Facebook – um bate-papo virtual no qual três mulheres negras, de diferentes partes da América Latina – debaterão conosco o tema “A Luta da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha”. São as nossas convidadas: a atriz Eva Prudêncio (de Piracicaba), a advogada Vera Lúcia Santana Araújo (de Brasília – integrante da Executiva Nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia-ABJD, do Grupo Prerrogativas e ativista da Frente de Mulheres Negras do DF) e a professora Mariana Rodrigues (de Cuenca, Equador – doutora em Letras, professora e pesquisadora na Universidade Nacional de Educação do Equador).

Mais do que celebrarmos uma datam, entendemos que o bate-papo virtual desta noite quer, sim – pelas vozes e o testemunho dessas mulheres – trazer a público essa temática, vivificando de maneira concreta a importância deste 25 de julho. Assim, ideamos (sonhamos e lutamos para) que a voz das mulheres negras, latino-americana e caribenhas possa, cada vez mais, ser ouvida e que sua presença simbolize também a perspectiva de que novos tempos irão de vir no Brasil, na America Latina e no mundo – oxalá – muito em breve. É hora!

Esperamos todas e todos em nosso papo virtual desta noite!

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Rai de Almeida, vereadora do PT em Piracicaba

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