Pedro Kawai
Não sou economista, nem possuo um vasto conhecimento sobre o comportamento do mercado, mas sou um cidadão que, como a absoluta maioria dos brasileiros também está sentindo no bolso o aumento do custo de vida em nosso país.
Esta semana um programa de TV apresentou o “aumentodromo”, uma espécie de radar com os aumentos mais expressivos que tivemos desde o mês de janeiro. Vamos aos números:
O gás de cozinha, essencial para as famílias brasileiras, de todas as classes sociais, teve um aumento acumulado de 27,2%, nos últimos dois meses; a gasolina – e, aqui, é possível incluir o etanol e o diesel que são solidários à gasolina, quando se trata de aumento – aumentou 46,9% nesse período. Mas o reajuste mais devastador para nós, paulistas e, acredito, para grande parte da população brasileira, foi mesmo o da energia elétrica que, acreditem, subiu 312% de janeiro até o 1º dia de julho, levando-se em consideração a primeira fase da bandeira vermelha, que entramos mês passado e, agora, a segunda, ainda mais elevada para todos nós. E os aumentos não param por aqui. O pedágio também subiu 8% no Estado e o custo de vida, que se mede por outras atividades produtivas como os setores de alimentação e vestuário também se elevou nos últimos meses.
Segundo dados do DIEESE, que é o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, que realiza periodicamente pesquisas sobre a variação do custo da cesta básica de alimentos, o Estado de São Paulo teve um aumento, ainda no primeiro trimestre deste ano, de 20,73%, o que significa, na prática, o enfraquecimento do nosso poder de compra e, obviamente, o empobrecimento da população brasileira.
O estudo do DIEESE também indica que o salário mínimo nominal necessário, ainda no mês de maio, para suprir necessidades básicas como por exemplo, alimentação, higiene pessoal, transporte e saúde, deveria ser de R$ 5.351,11 contra os míseros R$ 1.100,00 em vigor. Em outras palavras, o salário mínimo que muitos pais de família, aposentados e pensionistas recebem representa apenas 20% do que deveria ser, caso não houvesse tanta disparidade entre os aumentos de produtos e serviços e os reajustes salariais.
Diante dessa realidade tão cruel, que quase desaparece do debate nacional, concentrado basicamente entre o acompanhamento da pandemia da Covid-19 e os maus exemplos que diariamente se revelam em Brasília, fica a dúvida: de quem é a culpa? Alguém tem mesmo culpa? Poderia ser diferente? A pandemia é mesmo a grande responsável por uma das piores crises econômicas já vividas pelo Brasil desde a época da superinflação?
Me lembro que, ainda no governo do ex-presidente Michel Temer (e não faz tanto tempo assim), a reforma trabalhista era “vendida aos brasileiros” como a grande redentora, que tiraria o país do atoleiro. Depois, “o peso” se tornou o INSS, e mudaram-se as regras para a aposentadoria. E aí? O país melhorou? A economia voltou a crescer? A culpa era mesmo da Previdência Social?
É inquestionável que a pandemia provocou mudanças estruturais na sociedade e na economia global. Contudo, não se pode atribuir a ela todas as responsabilidades que pertencem aos gestores públicos. Como diria um velho professor de economia da faculdade, “em uma crise sempre há quem chore e quem lucre com a venda de lenços”.
O número cada vez maior de desalentados, que são aquelas pessoas que já desistiram de procurar emprego é um sinal de que a nossa economia vai mal, e não adianta tentar esconder esta realidade. É preciso enfrenta-la com a mesma coragem de fazer promessas em campanhas eleitorais. Ficar de braços cruzados, buscar culpados e ficar cruzados aguardando o fim da pandemia não vai resolver os nossos problemas. É preciso deixar de lado o extremismo e a intolerância pelo bem da nação e das futuras gerações.
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Pedro Kawai (PSDB), vereador em Piracicaba