Antonio Lara
Nesse incrível mundo da mentira, um dos exemplos mais célebres inseridos nos anais da história das vãs filosofias, é a cotradição de auto-referência atribuída ao filósofo e místico Epimênides (600 a.C): Diz o Cretense: “Todos os cretenses são mentirosos!”. Então, se Epimênides estiver mentindo, a afirmação é verdadeira, já que Epimênides é cretense, porém deveria ser falsa, uma vez que esta mentindo. Se Epimenides está dizendo a verdade, afirmação é falsa.
O mentir ou a mentira postula, em filosofia, um conflito em normas éticas. A pergunta, à luz da ética, é: mentir não é certo nem errado? Mentir é geralmente errado? Mentir nunca é certo? Mentir às vezes é certo? Em sendo assim, vamos admitir a hipótese de que todos, neste mundo, sem exceção, sejamos uns grandes mentirosos. Uns porque optam por mentir em prol do bem e outros em prol do mal; assim teríamos uma nova versão: A Mentira além do bem e do mal.
No mundo, bolha impermeável, da política partidária, onde se salvam os eminentes estadistas, homens e mulheres do bem, pontifica uma perpétua mentira. A cada nova eleição, as mentiras e as falácias ditas para enganar voltam cada vez mais fortes! É uma promiscuidade generalizada, regada às mentiras, entre políticos, partidos políticos empresários corruptos. Essa prática espúria nos faz distanciar, cada vez mais, daquela ideia clássica, oriunda do pensamento platônico, de que as noções políticas são permeadas por um elevado senso moral e que os padrões éticos representados na virtude da sabedoria, da coragem, da moderação e da justiça, que deveriam se fazer presentes na política, propriamente dita, e nas suas formas de governo; nos dias atuais, é uma verdadeira utopia, para não dizer de elevado conceito abstrato, isto é: impossível à luz da experiência humana, porquanto política e ética que deveriam andar lado a lado estão, hoje, trilhando caminhos ambíguos, não tem nada a ver uma com a outra.
Exemplo crasso, do que digo, acontece na CPI do/ou da Covid 19. Lá armaram um tablado, para não dizer um “circo”, em que, até que se prove ao contrário, a maioria dos depoentes, no dizer do relator, sua Excelência Senador Renan Calheiros, são mentirosos. Aliás, o senhor relator, num caso especifico de um depoente, disse que ele mentiu 15 vezes. Assim, não é leviano afirmar, que o Senador Renan é a própria encarnação da detecção de mentiras do Congresso Nacional. Isto é, ele tem a capacidade de perceber e revelar a existência do que está escondido.
Contudo, esse paradoxal mundo da mentira faz parte da democracia, e o bom da democracia é que todos, sem exceções, podem mentir. E, na política, mentir é um “bom negócio”. Entretanto, a mentira que “tem perna curta”, dizem as más línguas: “tem cauda longa!”
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Antonio Lara, articulista; [email protected]