João José Silveira
Lendo o noticiário, deparei-me com essa pequena manchete publicada em um jornal: “Brasil, 15,6 milhões de recuperados”. Na sequência, o texto relata que o Brasil tem 17,2 milhões de casos da Covid-19 e 482 mil mortes, além dos números de vacinas aplicadas até o momento.
Fiquei surpreso em ler alguma coisa positiva na mídia e evidentemente triste pelo elevado número de óbitos que, infelizmente, já provocaram perdas irreparáveis nas vidas de todas as pessoas que perderam algum ente querido nessa pandemia.
Acredito que, assim como eu, milhares de leitores ao se depararem com esses dados, se questionam. Mas se há tantos recuperados, conforme noticiado, quais foram os tratamentos e cuidados que esses pacientes receberam para vencer esse vírus traiçoeiro?
Eu não sei se alguém já leu em algum órgão da imprensa uma reportagem séria, com dados confiáveis, feita por jornalistas respeitados, que descrevam os estágios dos sintomas e os métodos e medicamentos utilizados pelos médicos no Brasil afora, que resultaram em tantos casos de recuperação. Tal reportagem, além de esclarecer a população, exaltaria os profissionais de saúde que na linha de frente do combate à pandemia arriscam suas vidas e de seus familiares na busca de salvar vidas de seus semelhantes, além de servir de fonte de pesquisas e posterior trocas de informações entre esses profissionais para aplicação de tais técnicas no tratamento e cura dos pacientes.
Há dias, como escreveu o jornalista Carlos Castilho, li no Facebook o comentário de um internauta que dizia “Eu já sei que está ruim e vai ficar pior. Por que a imprensa não nos acompanha na busca de soluções? O angustiado consumidor de notícias deu vazão ao que muita gente pensa e tem muita dificuldade para transformar em prática”.
No livro Opinião Pública, de Walter Lippman, ele escreve: “Um bom jornalista encontrará notícias mais frequentemente que um charlatão”. E acrescenta: faz parte da missão da imprensa livre investigar a informação relevante e jogar luz sobre ela. Iluminar para que todos vejam e, melhor ainda, que o fato danoso possa ser revertido. Muitas mazelas, por exemplo, já tiveram seu curso alterado por conta da exposição a que foram submetidas na mídia.
Penso que a maioria dos brasileiros, independente de ideologia política e paixões, gostariam de ver publicadas todas as notícias importantes do Brasil e do mundo, não apenas para estar bem informado, mas principalmente para que tragam consequências benéficas para população em geral e sirvam de fontes de pesquisa para tomada de decisões no enfrentamento dessa epidemia.
Com certeza, não é somente a imprensa a responsável pela calamidade que estamos vivendo, e não será ela sozinha que irá consertar nosso país, mas, como disse William R. Hearst, “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique”.
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João José Silveira, engenheiro