Rai de Almeida
Não é necessário que se diga que a boa educação preza pela capacidade de ouvir o outro com atenção, cuidado e respeito. Saber esperar a hora certa de falar, atentando para não se interromper ou se sobrepor a voz à voz de quem estiver com a palavra é também característica fundamental daqueles que primam pela convivência harmoniosa, democrática e plural. Saber ouvir, saber falar, portanto, são atitudes dos grandes homens e das grandes mulheres, de todos e todas que se dedicam ao outro e se interessam pelo bem comum, pela vida pacífica e, por que não dizer, saborosa em sociedade.
Falar é prata, ouvir é ouro – nos ensina o ditado. Para os que se arvoram em fiéis cristãos, a bíblia sagrada também nos ensina que mais sábio é quem conhece o momento certo de falar, sendo muito mais tolo e gentio os que irrompem aos brados o interlocutor que ainda enuncia. Nos diz, assim, o livro de Provérbios: “mesmo o estulto, quando se cala, passa por sábio, por inteligente, aquele que fecha os lábios” (Provérbios 17,28). Santo exercício esse o do ouvir e o do calar-se respeitando o momento do outro! Afinal, até os tolos, quando de boca fechada, passam por sábios.
“Há quem tenha a língua como espada, mas a língua dos sábios cura” (Provérbios 12,18), nos diz também o texto bíblico. Nos dias de nossos dias, é fato, como são férteis as línguas que se põem como espadas! Dentro do contexto da política nacional, então, o uso de expressões ignominiosas, de palavras de baixo calão, de discursos ofensivos tornou-se um constante mau exemplo praticado pelo Presidente da República e por seu séquito. Nunca um Presidente proferiu tanta verborragia, tanta “baixaria” frente à nação e ao mundo. Pior: seguindo esse triste modelo – esse modelo que ofende e deseduca –, não faltam pelo Senado, na Câmara Federal, nas Assembléias Estaduais e Câmaras de Vereadores Brasil afora os que – inspirados em tão mesquinho mestre – repetem tais grosseiras.
Arroubos machistas, interrupções abruptas e gestual enérgico ante a fala das mulheres – além de ridicularizações daquelas que ocupam cargos e espaços na esfera política do país – também não são exceção, sendo sim uma constrangedora recorrência. Triste Brasil onde muitos ainda não aprenderam que a política é espaço, por excelência, do diálogo inteligente, do debate de ideias, conceitos, posicionamentos e ideologias.
Para aqueles que, mesmo eleitos, ainda não sabem, é ação basilar da vida republicana a práxis democrática do diálogo. Por isso, não cabe mais – em pleno século XXI – tolerarmos a expressão rude dos que buscam se impor pelo grito, pela força, pela virulência verbal e gestual. Do mesmo modo, não cabe mais o argumento de que “o político deve falar como o povo fala” – pois não podemos atribuir ao povo a pecha de ignorante ou grosseiro. Não! Não aceitaremos mais esse discurso que imputa à nação e às pessoas mais simples o complexo de vira-latas. É hora de recuperarmos a boa educação. É hora de estimularmos a volta do debate de ideias, respeitoso e tolerante. Chega de truculência!
Felizmente, a “onda” da extrema direita – rude, grosseira e intolerante – já anuncia para muito breve o seu fim. Com ela, precisamos depor também a crueza, a descompostura e a má educação que tanto e tão vilmente identifica aqueles e aquelas figuras públicas alinhadas a tal extremismo político. Sim. A caravana do mal passará (com seus gabinetes do ódio, com sua descompostura institucionalizada, com sua arrogância machista) e haveremos, em breve, de ver renascer um país (e um município!) novamente muito mais humano, democrático, respeitoso e – sim! – muito mais bem educado.
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Rai de Almeida (PT), vereadora em Piracicaba