Qual é a visão dos espíritos para o 2º mandamento no Decálogo de Moisés?

Alvaro Vargas

 

Quando os hebreus deixaram a servidão, no Egito, após vários séculos, estavam ainda impregnados pela idolatria que existia naquela sociedade. Eles estavam habituados a uma existência servil cuja única preocupação era a própria sobrevivência, sendo assim, Moisés necessitou utilizar uma linguagem mais simples para se fazer compreendido, através do decálogo, certo de que os demais mensageiros de Jesus fariam os necessários esclarecimentos, quando a humanidade tivesse alcançado um nível intelecto-moral mais evoluído. O segundo mandamento diz: “Não pronunciareis em vão o nome do Senhor, vosso Deus”. O espírito André Luiz (Evolução em Dois Mundos, cap. 20, Chico Xavier e Waldo Vieira) esclarece melhor esse mandamento: “Precata-se contra os enganos do antropomorfismo, porque padronizar os atributos divinos absolutos pelos acanhados atributos humanos é cair em perigosas armadilhas da vaidade e do orgulho”.

De acordo com o Espiritismo, devemos evitar o antropomorfismo, ou seja, dar uma forma humana a Deus. Os antigos egípcios assim o fizeram, com o objetivo de atender a imaturidade espiritual do povo, embora entre os “iniciados”, já existissem maiores conhecimentos sobre a divindade. Ainda assim, a essência desse mesmo mandamento não foi compreendida pelos antigos hebreus, nem pelos profetas que vieram posteriormente, conforme pode ser observado nas antigas escrituras: “Então o Senhor se arrependeu” (Êxodo 32:14); “O Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti” (Números 6:24); “Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os Seus ouvidos atentos ao seu clamor” (Salmos 34:15). De acordo com o Espiritismo, “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas a coisas” (Livro dos Espíritos, Allan Kardec). Deus é onisciente (conhece o passado, o presente e o futuro), onipotente (tem poder ilimitado) e onipresente (está presente em todos os lugares, simultaneamente). Tampouco Deus foi compreendido pelos doutores da lei no antigo sinédrio de Jerusalém, que mantiveram a tendência dos antigos profetas, sujeitando a Divindade as mesmas paixões e violência humanas. Apenas com Jesus, e a sua Boa-nova, foi possível descrever Deus como um Pai boníssimo e amoroso, sempre nos possibilitando a oportunidade do recomeçar e evoluir rumo a perfeição espiritual.

As religiões que derivaram do judaísmo também não conseguiram compreender a essência da mensagem nesse segundo mandamento. Assim como os antigos egípcios, adorando deuses com formas humana e animal, as demais religiões que se estabeleceram, não conseguiram evoluir na compreensão da divindade. A Igreja Católica Romana apresentou Deus com a forma humana e animal (pomba), no dogma da “Santíssima Trindade”. Um Deus em três pessoas (pai, filho e Espírito Santo), assumindo nessa trilogia, Jesus como Deus, conforme foi estabelecido pela igreja no concílio de Niceia em 325 d.C. No Espiritismo, Jesus é o nosso irmão maior, um espírito puro enviado por Deus, para servir de modelo à humanidade, não é o criador do universo. “A humanização divina é uma frontal agressão ao bom sentido da lógica e da criação; é torná-lo finito, palpável, retido em pequenez, sem os atributos que O caracterizam, diminuindo-Lhe a grandeza” (André Luiz, in Op. cit.).

A citação de Jesus: “Ninguém jamais viu a Deus” (João, 1:18), deve ser compreendida em um sentido relativo, referente ao estágio evolutivo em se encontra a nossa humanidade. Aprimorando, através das reencarnações, a nossa bagagem intelecto-moral, sentiremos e compreenderemos melhor a presença divina em tudo o que existe e acontece. Eventualmente estaremos em Sua presença, conforme prometeu Jesus: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mateus, 5:8). Sobre essa citação do Mestre Nazareno, na qual seremos um dia, capazes de compreender o mistério da divindade, o Espiritismo confirma essa afirmação, esclarecendo que “quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria, e pela sua perfeição houver se aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá” (Allan Kardec, in Op. cit.).

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

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