Silvio Corrente
Falar sobre Educação em épocas de pandemia mundial realmente não é um assunto fácil. Todavia, temos que convir que a evolução para um ensino mais tecnológico já urgia nas melhores rodas docentes, o que se viu foi a antecipação desta modalidade motivada pela pandemia. A questão é que antecipar algo no Brasil, via de regra, significa deixar alguns ou algumas coisas para trás, o que não se pode admitir quando o assunto é Educação.
Premissa vênia, é costume dos administradores quando desconhecem o assunto “delargar” (isso mesmo, em outras palavras, correr do assunto que não dominam) aos seus subordinados a busca de “soluções mágicas” que, em verdade, não existem. Especialmente quando se trata de Educação e o assunto fica mais sério!!!
Inúmeras são as propostas e, entre boas e ruins, a que mais vem se destacando é a busca pelo Ensino Hibrido, modalidade que mescla ensino presencial com on-line (síncronos e assíncronos) que vem ganhando força e apresentasse como um caminho sem volta a nova realidade educacional do país. Atrelado a esse mecanismo, temos o que chamamos de ensino de metodologias ativas, onde colocasse o aluno como protagonista do processo de aprendizagem, destacando suas habilidades e competências individuais que diante do modelo tradicional estava adormecida e pode reascender no discente o gosto pelo novo.
Sem nos aprofundarmos nestas metodologias, cabe um adendo: tais metodologias já são debatidas e apresentadas aos professores há muito tempo. Pesquisadores como John Dewey, Jean Piaget, Maria Montessori, Célestin Freinet, Lev Vygotsky, Carl Rogers, Paulo Freire e tantos outros enfatizam, há décadas, que o processo de ensino e de aprendizagem tem mais significado quando há interação com o meio, e as tecnologias tornam-se experiências educacionais importantes e significativas para transformação da informação em conhecimento, superando assim o modelo tradicional.
Enfim, sejam quais forem os métodos e as tecnologias adotadas, o maior desafio dos Gestores Públicos nestes tempos é ofertar Educação de qualidade de forma equânime.
Ocorre que este processo passa pelos mais diversos entraves: seja pela falta de treinamento e espaços adequados aos profissionais para produção de conteúdo; seja pelo pouco investimento no profissional da educação que, muitas vezes, custeou seus equipamentos que nem sempre são adequados; seja pela falta do acesso aos recursos tecnológicos por parte dos alunos que normalmente são inúmeros (falta de equipamento adequado, compartilhamento de equipamento, ausência e falta de qualidade de sinal de internet, complexidade de plataformas, etc.). Todos estes fatores criam no profissional da educação os sentimentos de medo, tristeza, insegurança, ansiedade, angústia e incerteza (Fonte USP e Reconectta).
Em recente pesquisa realizada pela USP {(IEE e IEA) com colaboração de membro da Esalq-USP} e Reconectta¹, submeteram 19.221 professores da Rede Estadual com representação de 544 municípios paulistas e surpreendentemente, mesmo com os sentimentos negativos mencionados acima, no geral, 62% dos sentimentos citados foram classificados como positivos quanto ao novo modelo educacional em curso.
Dois pontos hão de ser destacados para este resultado:
- A resiliência (que há anos podemos chamar de resistência) dos Professores e profissionais da educação;
- A motivação pelo desafio do novo modelo e a superação pessoal.
Uma coisa é certa, nesta mistura de medos, ansiedades, resiliência e superação, 85% dos entrevistados têm a percepção de que os estudantes aprendem menos ou muito menos via educação mediada por tecnologia. Por outro lado cerca de 80% afirmam que sua atuação como docente e a educação em sentido mais amplo vão mudar para melhor no período pós-pandemia.
Expostas as feridas e seus unguentos, o que cabe ao Gestor Público é lutar incansavelmente por parcerias privadas que diminuam os entraves e seus reflexos, ajustar tecnicamente suas equipes para fazer mais com os mesmos recursos e cotidianamente investir na capacitação de seus profissionais. Monitorando de perto resultados que são e sempre foram o único caminho do desenvolvimento de um Município, de um Estado e de uma Nação, qual seja, a Educação.
¹ Pesquisa: dr. Edson Grandisoli, pesquisador colaborador do programa Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, sob supervisão do prof. dr. Pedro Roberto Jacobi (IEE e IEA-USP), com colaboração do dr. Silvio Marchini (Esalq-USP) e parceria da Reconectta, desenvolveram e aplicaram a pesquisa Educação, docência e a COVID-19, composta de 26 questões (19 fechadas e 7 abertas), disponibilizada a todos os educadores e educadoras da Rede Estadual de Educação de São Paulo
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Silvio Corrente, advogado, contabilista, especializado em administração pública e gerencia de cidades e Consultor da área pública.