O integralismo ilumina o bolsonarismo

Rodolfo Capler

 

“Anauê” (Somos irmãos!). Com essa saudação, de origem indígena, os membros do Movimento Integralista Brasileiro, se cumprimentavam. O integralismo surge na década de 1930, no início da Era Vargas, como um movimento político-ideológico de extrema direita, que buscava, entre outras coisas, a integração do Brasil sem ramificações partidárias, regionais e de classes.

Extremamente patriotas, utilizando uniformes verde-musgo, com o estigma da letra grega sigma, os “camisas verdes” como ficaram conhecidos, eram antissemitas, combatentes dos “comunistas” e contrários às expressões religiosas díspares do catolicismo. Ostentando o lema: “Deus, Pátria e Família”, instituíram uma espécie de movimento fascista tupiniquim.

Há quem sustente que o integralismo se imiscuiu em nossa história, reaparecendo de forma multifacetada em nossos dias, no atual movimento bolsonarista.  Essa é uma tese sustenta por alguns – como é o caso do jornalista Pedro Dória -, e que, a meu ver, faz algum sentido, a priori. Seria o bolsonarismo uma extensão do integralismo? A resposta para essa questão só pode ser dada após muita pesquisa e escrutínio acadêmicos, porém, não podemos negar as similaridades entre ambos os movimentos.

O bolsonarismo à semelhança do integralismo estabeleceu como projeto político, a temporada dacaça às “bruxas vermelhas”. Comunistas, socialistas e social-democratas, são vistos como demônios e verdadeiros riscos à democracia, assim como para lei e a ordem, segundo o movimento bolsonarista. Com uma base agro, ênfase excessiva na família nuclear, estética militarista e índole violenta, o bolsonarismo –seguindo o exemplo do integralismo -, busca sua base de sustentação na aliança com a Igreja (porém, não só com a católica, como fez o integralismo, mas também com a crescente igreja evangélica).

Céticos, descrentes, blasés e irônicos (como é o caso deste que vos escreve), não têm vez para o bolsonarismo. Assim como ocorria no integralismo, no bolsonarismonão há meio termo. O lema bolsonarista é excludente por essência:ou se é um dos “nossos”, ou se é um inimigo“contra nós”.Portanto, não há espaço para críticas ou autocríticas; no bolsonarismo, o pensamento contrário é visto como um crime – já estou vaticinando os possíveis ataques que receberei como consequênciadeste artigo de opinião.

O integralismo fazia apologia às armas, com seu ideólogo-mor, o intelectual Gustavo Barroso. O bolsonarismo, por sua vez, faz o mesmo por meio do escritor e youtuber Olavo de Carvalho. Os camisas verdes tinham Plínio Salgado como a encarnação do movimento. O bolsonarismo tem o Messias, Bolsonaro. O integralismo ilumina o bolsonarismo. Para melhor compreender o que acontece em nosso país, vale a pena prestar atenção nisso.

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Rodolfo Capler, pesquisador, teólogo, escritor e autor do livro (no prelo) “Geração Selfie”. E-mail: [email protected]/Instagram: @rodolfocapler

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