O clientelismo e a negação da cidadania política

Adelino Francisco de Oliveira

 

O clientelismo é uma velha forma de se corromper o sentido mais alto de se fazer política. O eleitor-cidadão acaba sendo reduzido à dimensão de um mero cliente, que tem sua cidadania política rebaixada, em uma relação pautada em compra e venda. A prática política, particularmente em períodos eleitorais, acabou por se tornar refém do ciclo vicioso do clientelismo, que destrói as perspectivas da política enquanto instrumento de formação para à cidadania.

A prática clientelista guarda uma longa trajetória na história política do Brasil. Remete a ações eleitoreiras que consistem em tratar o eleitor como se fosse um cliente, concedendo-lhe privilégios e favores em troca de seu voto. No limite, o clientelismo é uma maneira dissimulada de se comprar o voto do eleitor, promovendo a deturpação da política, com a lógica perversa do toma lá dá cá.

O político clientelista não tem nenhuma preocupação com a formação para a cidadania política, que gera a produção de uma política de alta intensidade, participativa, fortalecendo a própria democracia. A prática clientelista demonstra um profundo desprezo à concepção de cidadania, tendo como único interesse angariar votos, garantindo vitória no pleito eleitoral. Na lógica clientelista, os fins sempre justificam os meios. Em outras palavras, vale tudo para se conquistar uma eleição.

O clientelismo é responsável direito pela construção de uma concepção rebaixada de cidadania e por uma visão negativa e deturpada sobre a própria política. O eleitor, assediado pela postura clientelista, acaba por consolidar a compreensão de que o bom candidato é aquele que prove suas demandas sociais, com favores e presentes. A perspectiva clientelista está profundamente arraigada no imaginário político brasileiro, compondo-se como a representação que alimenta o desprezo que grande parcela da população tem pela atividade política.

Para romper com essa histórica deturpação política, que é o clientelismo, torna-se fundamental o trabalho de formação, fortalecendo, sobretudo, a participação política. É urgente recuperar a política como instrumento de luta e transformação social. O senso de cidadania, fundado em uma sociedade de direitos, é o caminho para se suplantar a lógica do oferecimento de favores em troca de votos. A autonomia e a liberdade que caracterizam a democracia exigem práticas politicas independentes, desinteressadas, coletivas, críticas, superando formas de um mandonismo e clientelismo que, com ares mais modernos, insistem em rebaixar pessoas, grupos, partidos e o próprio Estado Democrático de Direito.

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 Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba; Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; [email protected] ; @Prof_Adelino_ ; professor_adelino

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