É fácil conquistar o Paraíso?

Alvaro Vargas

 

As religiões institucionalizadas diferem quanto ao conceito do Paraíso, na vida após a vida. De acordo com aquelas que adotam os postulados cristãos, como as igrejas institucionalizadas, Católica Romana e Reformadas, que contam com 2,2 bilhões de fiéis, os justos irão para o “Céu” e permanecerão em um estado contemplativo por toda a eternidade. Já para os 1,6 bilhões de muçulmanos, os homens que merecerem o Paraíso, poderão ter 72 virgens e vinho junto as vinícolas. O Espiritismo, Consolador prometido por Jesus (João, 14:26), esclarece que Deus nos criou simples e ignorantes, e atravessaremos múltiplas reencarnações rumo ao nosso aprimoramento moral e intelectual. Após a morte física, ninguém fica ocioso. Todos trabalham e dão continuidade ao processo evolutivo, aguardando uma nova oportunidade reencarnatória. Aqueles que fracassam em suas oportunidades de aprimoramento podem permanecer durante algum tempo no Umbral, para depuração das energias negativas, até serem resgatados e terem uma nova oportunidade de voltar ao mundo material. Mas, assim como os demais fiéis de outras religiões, a maioria dos espíritas ainda tem dificuldades em compreender que não existem facilidades para a conquista dos planos espirituais mais elevados.

Através da psicografia do médium Chico Xavier (Voltei), o espírito Frederico Figner (1866-1947), que ditou essa obra, necessitou usar um pseudônimo (irmão Jacó), pois os familiares, mesmo espíritas, se recusaram a aceitá-la como verídica (Deus Conosco, Emmanuel e Chico Xavier, pg. 385). O motivo foi a extensa folha de serviços abnegados empreendidos por Frederico (mais de 40 anos), e a forma como ele descreveu nessa obra a sua chegada no mundo espiritual. De fato, embora rico, sempre foi uma pessoa generosa. Fundou a Casa Edison, ajudando a divulgar a máquina de escrever em todo o Brasil. Foi Vice-Presidente da Federação Espírita Brasileira, e mantinha uma coluna no jornal “Correio da Manhã”. Durante a pandemia da gripe espanhola, arriscou a sua vida e a de seus familiares, acolhendo em sua residência, 14 enfermos contaminados por esse vírus. Realizou inúmeras doações, ajudando várias obras sociais, principalmente o livro espírita.

Imediatamente após desencarnar, Frederico observou que o seu perispírito estava acinzentado, demonstrando que mesmo com toda a sua dedicação ao Espiritismo, não havia conseguido interiorizar os ensinamentos de Jesus. E, ao observar ao seu lado o corpo espiritual de uma professora primária, recém desencarnada assim como ele, notou um jato de luz que ela emanava de seu tórax, pelo amor dedicado as crianças. Compreendeu então a necessidade de reformular conceitos na vivência da Boa-nova. Conquistou a necessária luz interior, mas além de estudar, peregrinou na erraticidade por quase um ano, ouvindo referências as suas antigas faltas, erros da mocidade, gestos de aspereza, promessas não cumpridas etc. Na primeira oportunidade, nos trouxe sérias advertências. Diz Frederico: “É para vocês, membros da grande família espírita que tanto desejei servir, que grafei estas páginas sem a presunção de convencer. Não se acreditem quitados com a Lei, atendendo pequeninos deveres de solidariedade humana e nem se suponham habilitados ao paraíso, por receberem a manifesta proteção de um amigo espiritual”.

As ponderações de Frederico fazem sentido. Realmente, a “miopia” espiritual, associada à ausência de autocrítica, tem conduzido inúmeras pessoas ao fracasso da experiência reencarnatória. Por isso, o abnegado espírito Eurípedes Barsanulfo, criou na erraticidade o Hospital Esperança (Tormentos da Obsessão, Manoel P. Miranda e Divaldo Franco), para atender os que fracassaram na divulgação da mensagem cristã durante a romagem terrena (padres, pastores, dirigentes espíritas etc.). Bem advertiu Jesus: quem ouve e pratica os meus ensinamentos, consegue suportar e vencer os desafios que a vida oferece; mas aqueles que apenas ouvem e não vivenciam o meu Evangelho, grande é a sua ruína (Mateus, 7:24-27).

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, radialista e palestrante espírita

 

 

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