Simplesmente Mãe

Antonio Lara

 

Todo pai deveria ser uma mãe e carregar em seu recôndito a semente do entendimento, da paz, da ternura e daquele sentimento especial que somente o espírito materno tem: a doçura. Ao menos uma vez no ano. Pelo menos no Dias das Mães. Porque essa doçura, óbvio, é uma qualidade genuína da mulher que se torna mãe, é evidente que ninguém mais tem. Talvez até existam, mas não conheço pais doces, só mães. Amor de pai também é diferente do expressado por quem sentiu durante nove meses o movimento e as pontadas da vida no próprio ventre e cultivou essa existência com o carinho e a ternura desconhecida pelo homem. Inegavelmente, ser mãe é amar os filhos de modo incondicional não importa o lugar ou a circunstancia, enquanto o amor Paterno fica muito aquém, pois sugere um que de autoridade, necessário sim, porém sem a ternura deveras encontrada na expressão materna.

Seria maravilhoso se nós homens pudéssemos ter, ao menos, uma pequena idéia do que é amar tão bem como só o coração de mãe ousa e consegue.

Precisaríamos ser pais/mães para alcançar o âmago do mais próximo da perfeição que o amor humano pode atingir, e isso é ser simplesmente mãe.

Ainda assim não chegaríamos nem um milionésimo de centímetro próximo da meiguice de uma mãe devotada. É tão completo o amor da mulher que dá à luz que ela é capaz de submeterem-se aos mais diversos sofrimentos para, engravidar, quando então se terá olhos sonhadores, pensamentos e devaneios para o filho que vai nascer. Sem pensar ou ligar importância a nenhuma conseqüência, seja de que ordem for. Objetivando gerar um filho, submetem-se a curiosos e dolorosos exames, e desafiam os próprios limites para atingir esse objetivo amoroso.

(Pausa para uma estória que exalta o amor materno:

Contam que duas mulheres disputavam a maternidade de uma criança e foi apresentar o problema ao rei Salomão. Aos gritos, uma dela dizia ser a verdadeira mãe e pedia justiça ao soberano. A outra apenas chorava afirmando sua condição de mãe cujo filho lhe fora arrancado das mãos. Do alto de sua sabedoria e diante do impasse após ouvir as duas, Salomão prolatou a seguinte: a criança seria cortada ao meio e cada metade ficaria com uma das supostas mães. Então, o amor falou mais alto. Desesperada, imediatamente a mãe de verdade suplicou pela vida do filho e renunciou à condição materna em prol da vida do rebento. Que aquela mulher ficasse com a sua criança, preferia tê-la viva ainda que com a outra. (Foi assim que o rei descobriu quem era realmente a mãe, entregando a criança a quem de direito e mandando prender a impostora.) Terminada a pausa, volto ao assunto e registro quão sublime tem sido o papel da mãe ao longo da grandiosa e épica aventura humana. Exemplo maior de dedicação, de afetividade, de carinho, de altruísmo, a mulher mãe é capaz de “mamar em peito de onça”, como se expressa o vulgo, para proporcionar ao filho o melhor. Ela dará a vida por ele sem pensar, se necessário. Faz parte de o seu agir ser assim. Imagine o que é acordar, à noite, de duas em duas horas, pelo período de dois a três meses para dar de mamar ao recém-nascido.

Quem mais enfrenta trancos e barrancos para suprir as necessidades da prole?

Uma mãe vale por muitos pais. Quem mais caminharia sorrindo se não a mãe.

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Antonio Lara, articulista, [email protected]

 

 

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