Pedro Kawai
Dizem que caldo de galinha e bom senso não fazem mal a ninguém. Humildade também não. Digo isso, porque cheguei ao meu terceiro mandato como vereador, ouvindo as pessoas e procurando sempre transformar erros em aprendizado. Talvez seja um traço da minha herança oriental, ou porque tive a oportunidade de conhecer grandes nomes da política local, estadual e nacional, com os quais aprendi que, para vencer, é necessário ouvir, e muito.
Digo isso, porque entendo ser imprescindível ouvir a sociedade antes de adotar medidas polêmicas, como a que pretende transferir para o Engenho Central, a Biblioteca Municipal e a Pinacoteca. Seria uma medida coerente? O que se ganha com isso? Quem sairia perdendo com essa proposta? A classe artística (?), que teria de abrir mão de parte da história cultural da nossa cidade, impregnada nos tijolos da histórica Casa das Artes Plásticas? Os estudantes, professores, literatos, contadores de histórias e usuários da Biblioteca Municipal (?), que terão de assistir à transformação daquele espaço, que foi planejado por especialistas e pago com recursos destinados pela Câmara Municipal (?). A população (?), que tem como referência para a cultura e o conhecimento, esses locais tão importantes? Todos sairemos perdendo, caso isso ocorra.
O prefeito pode fazer o que deseja, desde que ouça a sociedade, respeite a Câmara de Vereadores e as demais instituições da nossa sociedade. Não há dinheiro, nem tempo para experiências fracassadas. Estamos no meio da mais devastadora pandemia que Piracicaba já experimentou e o momento não é de fazer experiências, e sim, de se tomar decisões bem articuladas.
O atual secretário municipal de Ação Cultural e Turismo, o publicitário Adolpho Queiroz, por ocasião da coletiva de imprensa dos “Cem Dias”, disse que o “Engenho da Cultura”, uma espécie de centralização das ações culturais em um único local, talvez seja um dos projetos mais ambiciosos do atual governo, desconsiderando a necessária discussão com o Conselho Municipal de Política Cultural de Piracicaba (COMCULT), conforme a Lei Nº 5.418/2004, assim como pelo CODEPAC e CONDEPHAAT, tendo em vista que o Engenho Central se trata de um patrimônio tombado pelo município e pelo Estado, com andamento também em âmbito nacional.
Respeito e muito a legitimidade e também a liberdade de decisões que o cargo de prefeito e secretário têm, porém, é necessário também que se tenha respeito pela história da família Dutra e por todos os artistas que se consagraram nos salões oficiais de Belas Artes, Arte Contemporânea e Aquarela, realizados naquele solo sagrado para a cultura piracicabana. Respeito à literatura, à nossa Academia Piracicabana de Letras, o IHGP, e todos os aqueles cujas obras se encontram acolhidas em nossa Biblioteca Municipal.
Como gestor, antes de decisões alardeadas, seria oportuno ouvir os envolvidos, até por força legal. Entender o que significa para a história da cidade, os acervos dessas duas casas e como chegaram a ser o que são hoje no cenário cultural mundial.
Fica a pergunta: por que não investir em melhorias nos atuais espaços, ao invés realizar adaptações para cada uma dessas casas? Modernizar e aprimorar sim, mas apagar suas histórias é jogar para o canto, legados importantes e conquistas que tiveram muito suor e participação popular.
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Pedro Kawai, vereador pelo PSDB