Tarcísio de Assis Jacintho
Se você está lendo este texto, certamente, assim como eu, não sabe o que é a fome. Isso graças, entre outras coisas, ao marco civilizatório tão ameaçado em nossos dias. Ainda que não tenhamos conquistado plenamente os direitos sociais, conseguimos que eles estivessem na Constituição.
As principais consequências da fome são: a desnutrição, devido à falta de nutrientes, proteínas e calorias; raquitismo, devido à carência de Vitamina D; anemia, provocada pela ausência de ferro; vários distúrbios e doenças causadas pela falta de Vitaminas A e do Complexo B.
Todas essas carências sentidas pelo organismo afetam o corpo humano, integralmente, contribuindo para diminuir o sistema imunológico responsável pelo combate de várias doenças no organismo, deixando assim o indivíduo exposto a contrair diversas patologias viróticas, bacterianas, causadas por vermes ou protozoários. No entanto, a pior de todas as consequências é quando todos estes estágios chegam a um limite, levando o indivíduo à morte.
A fome é a realidade de 805 milhões de pessoas no mundo que, pela privação de alimentos, estão em estado de subnutrição. O Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014.
Os especialistas denominam a situação de fome como “segurança ou insegurança alimentar”. O órgão responsável pelo monitoramento da oferta adequada de alimentos à população é a ONU (Organização das Nações Unidas) e seus órgãos acessórios, a FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura), o FIDA (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola) e o PMA (Programa Mundial de Alimentos).
Pela definição da ONU, “a segurança alimentar só existe quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico, social e econômico a uma alimentação suficiente, segura e nutritiva que satisfaça as suas necessidades dietéticas e preferências alimentares para uma vida ativa e saudável”.
O monitoramento anual das entidades aponta que a situação mais grave em relação à oferta de alimentos, atendendo às definições da ONU, é registrada na África Subsaariana, onde uma a cada quatro pessoas está cronicamente desnutrida.
A fome é, também, a realidade de 526 milhões de asiáticos, e atinge 37 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe. A pobreza que impõe a fome é observada em 63 países em que seus governantes firmaram compromissos políticos para melhorar a situação da população, onde a renda per capita (por pessoa) não ultrapassa R$ 2,36 por dia.
Um estudo recente da Oxfam Internacional, realizado por conta da pandemia de covid-19, advertiu sobre o aumento da fome no planeta em função do surto pandêmico do novo coronavírus que gerou uma grande recessão global e lançou milhões de pessoas na pobreza extrema.
De acordo com dados da organização não governamental britânica, a crise alimentar que já vinha se acirrando nos últimos anos se agravou em 2020, pois um montante entre 6,1 mil e 12,2 mil pessoas poderão morrer diariamente de fome em decorrência dos impactos socioeconômicos da pandemia.
Jesus ao ser tentado, segundo nos relata o Evangelho de Lucas, enfrentou sua quarentena em jejum. Isso o fortaleceu espiritualmente, mas o fragilizou como humano, fazendo com que ele conhecesse a angústia da miséria humana. Tempos depois, quando Jesus ouviu que João Batista havia sido morto, ele recuou solitariamente para um local em Betsaida. A multidão o seguiu a pé a partir das cidades da região. Quando Jesus desembarcou e viu a grande quantidade de gente, ele se compadeceu deles e curou seus doentes. Conforme a noite se aproximou, os discípulos chegaram até ele e disseram: “Este lugar é deserto e a hora é já passada; despede, pois, as multidões, para que, indo às aldeias, comprem alguma coisa para comer.”. Jesus respondeu: “Não precisam ir; dai-lhes vós de comer.”. Os discípulos retrucaram: “Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes” e Jesus pediu-lhes que o trouxessem. Aqueles cinco pequenos pães de cevada e dois peixinhos, doados por um garoto, ecoam pela história e chegam até nós: Dai-lhes vós mesmos de comer.
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Tarciso de Assis Jacintho, administrador de empresas, coordenador administrativo-financeiro da APFP (Associação Presbiteriana de Filantropia de Piracicaba)
Tarciso de Assis Jacintho
Administrador de Empresas