Por uma Experiência Religiosa Libertadora

Adelino Francisco de Oliveira

 

No contexto em que o fundamentalismo religioso procura definir a direção da política e da cultura, a partir de um moralismo cínico e teologicamente equivocado, levantando-se contra a democracia, os direitos humanos e os mais básicos princípios civilizatórios, torna-se fundamental resgatar as potencialidades libertadoras da experiência religiosa.

Nas origens mais remotas do movimento de Jesus, inserido na periferia de Israel, na região da antiga Galileia, a mensagem que ecoa é a boa nova da libertação político-social, em uma dinâmica religiosa que rompe com as estruturas de opressão e exploração, sedimentadas a partir do poder do Templo de Jerusalém, sob a tutela do domínio do Império Romano.

O movimento de Jesus, na radicalidade de sua mensagem, anuncia o evangelho, a boa notícia da salvação e da libertação – dimensões fundamentais e complementares do projeto de Reino de Deus. A própria expressão Reino de Deus, dentro dos limites da linguagem, não guarda nenhuma relação com a noção de monarquia, de um poder tirânico, mas remete ao tempo da Graça, na plenitude da comunhão e amor e também à utopia política do reinado do povo, em um tempo histórico de justiça, direito e paz.

A salvação contempla o conteúdo escatológico, a realização da esperança de uma vida plena, abundante e eterna, consubstanciada em um Reino que reconecta, em aliança cósmica, toda criação – a transcendência, a humanidade e a natureza. Rompendo com os sistemas hierarquizados e excludentes, as promessas do Reino se abrem para todos e todas, inclusive para os pecadores. A ressurreição, na dinâmica de uma vida que não se esgota na materialidade, é a chave que abre para uma vida infinita em possiblidades, que suplanta toda experiência de dor, sofrimento e morte.

O aspecto da libertação é um evento histórico, que registra um conteúdo social e política, rompendo com as estruturas que produzem opressão e exploração. O Reino de Deus representa a libertação da pobreza e de todas as formas de injustiça e exclusão sociais, que impedem a existência de se tornar uma experiência abundante de possibilidades.

Guardando fidelidade com a verdade mais profunda do movimento de Jesus, a experiência religiosa, no âmbito do cristianismo, deve contemplar o anúncio da salvação e da libertação, assumindo uma perspectiva que engloba transcendência, mística, espiritualidade e luta política.

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Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba. Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; [email protected]

 

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