“Dura Lex Sed Lex”

João Carlos Gonçalves

 

Os homens frequentavam o salão de barbeiro e as mulheres a cabeleireira. No salão de barbeiro, os homens podiam cortar o cabelo, fazer a barba, dar um trato no bigode, engraxar o sapato e colocar o papo em dia sobre os acontecimentos e, principalmente, sobre as pessoas da cidade (ou seja, faziam a famosa fofoca).

Hoje, o salão é tudo “junto e misturado”. Na essência, separados sem o charme e o romantismo dos encontros. Para os cortes de cabelo não existiam revistas e modelos em computador. O corte para os cabelos das crianças era chamado de “alemão.” Havia todo um ritual para quem fazia a barba, como amolecer a pele do rosto com toalha quente e espuma cheirosa para ajudar a deslizar o instrumento cortante do barbeiro, a chamada navalha (que era uma verdadeira navalha na carne). Depois da barba feita, havia uma rápida massagem – quando eram aplicados a tradicional “Água Verva”, no expressar dos “Caipiracicabanos”. E, às vezes, usava-se também um pouco de “Tarco”, para dar suavidade.

Quando o trato era nos cabelos, os barbeiros aplicavam “Quina petróleo”, utilizada nos cabelos escuros, com tons castanhos, e nos pretos e avermelhados, que por algum motivo, ficavam desbotados. Outros clientes exigiam loção de babosa de cor branca, que hoje é conhecido no mercado com o nome científico de Aloe Vera. Mas o grande charme era pedir para passar, depois de cortado o cabelo, uma porção de brilhantina Glostora. Havia até um “jingle” baseado na marchinha de carnaval “Aurora”, da década de 40, que fazia uma paródia da música e dizia: “A elegância masculina, Oh! Oh! Aurora, e encerrava Oh! Oh! Glostora”. Criada pelo publicitário Gilberto Martins.

Havia também o Gumex, um produto que mantinha o topete de um jeito que nem ventania conseguia desmanchar e era vendido em pote de vidro ou em solução em pó (cor de rosa), que misturado na água morna fazia a “goma” ficar pronta. Deste surgiu o comercial campeão do bordão publicitário daquela época (numa rima excelente), criado pela genialidade de Ary Barroso (autor de Aquarela do Brasil), que narrando uma partida de futebol improvisou a frase para um dos patrocinadores, que era o produto Gumex , dizendo: “Dura Lex Sed Lex” (frase latina que diz: “A Lei é dura, mas é a Lei”) e rapidamente acrescentou em português “no cabelo só Gumex”.

Eram os anos dourados, como foi mostrado no filme de John Travolta e Olivia Newton John- “Nos Tempos da Brilhantina”. Era o tempo do Daytona, do Karamba’s, Grill Dog, Vitaminado Brasil, Cine Politeama e outros tantos ícones de nossa Piracicaba. Mas isso já é prosa para outro café.

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João Carlos Gonçalves, professor universitário

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