O nosso atraso moral e as suas implicações no combate às pandemias

Alvaro Vargas

 

Deus nos criou simples e ignorantes, e nos concedeu a eternidade para que, através do processo reencarnatórias, evoluíssemos até nos tornarmos espíritos puros. Durante as inúmeras romagens terrenas, nossas ações nem sempre foram as mais edificantes, com severas consequências conforme as leis divinas. Em 1233, visando manter o monopólio da divulgação do cristianismo, a Igreja Apostólica Romana, sob o comando do papa Gregório IX, houve por bem instituir um sistema jurídico organizado sob a forma de uma rede de tribunais eclesiásticos compostos por juízes e investigadores, cuja atuação, em conjunto com o estado, permitia prender, torturar e condenar todos aqueles que fossem considerados hereges à morte na fogueira. O objetivo inicial foi combater a propagação dos movimentos religiosos, conhecidos como Cátaros e Valdenses, que difundiam os ensinamentos de Jesus de forma simples, sem os rituais e dogmas da igreja. Com a consolidação do seu poder na Europa, o papa estabeleceu a inquisição para assegurar que os movimentos “não cristãos”, minassem a sua autoridade.

Mesmo indivíduos comuns e sem qualquer envolvimento religioso, acabaram sofrendo perseguições derivadas da ignorância predominante na época. Acusadas de bruxaria, as mulheres foram as que mais sofreram as barbáries promovidas por esse movimento. Com base em acusações infundadas, elas eram arrastadas de suas casas, sem saber ao certo quais eram as acusações. Sob tortura, eram coagidas a “confessarem” que eram bruxas, sendo então condenadas à morte na fogueira.

Historiadores divergem sobre o número de fatalidades causadas pela inquisição, mas só na Alemanha, estima-se que 25 mil pessoas foram executadas, suspeitas de bruxaria (BBC World Service, 2 novembro 2020). De acordo com o espírito Antúlio (No rumo do mundo de regeneração, cap.1, Manoel P. Miranda e Divaldo Franco), a inquisição ceifou mais de um milhão de vidas, acusadas como hereges.

Essa perseguição, por incrível que possa parecer, acabou se estendendo para além dos seres humanos e veio a alcançar os gatos, considerados pela igreja como bruxas camufladas na forma animal. Nesse período, surgiu a Peste Negra, a pandemia mais devastadora já registada na história humana, que resultou na morte 200 milhões de pessoas na Eurásia, atingindo o pico na Europa, entre os anos de 1347 e 1351. Essa doença, causada pela bactéria Yersinia pestis, era transmitida pelas pulgas existentes nos ratos. A causa para a disseminação dessa enfermidade foi a alta densidade populacional das cidades, mal planejadas, associada a falta de higiene. O atraso moral que resultou na “caça às bruxas”, ocasionou a quase a extinção dos gatos, predador natural dos ratos, provocando a expansão dessa Pandemia. Os ratos portadores de pulgas infectadas, multiplicaram-se, contaminando a população.

Analisando o comportamento humano na atualidade, é nítido observar que evoluímos em muitos aspectos, mais ainda persiste um grande atraso moral. Como exemplo, a forma como combatemos os efeitos da enfermidade causada pelo vírus COVID19, que já infectou 129 milhões de pessoas, e provocou 2,82 milhões de letalidades. Segundo Antúlio (in op. cit.), “de forma similar à Peste Negra, repete-se agora o mesmo equívoco em relação à Pandemia atual. Perde-se muito tempo com dialética vazia e combates antifraternos, separando as pessoas do mesmo clã por ideologias políticas e criminosas, enquanto os males surgem inesperadamente. As paixões políticas arruínam os países, e os sobreviventes desse vírus serão dizimados pela miséria e pelo abandono”. Nunca foi tão necessária a vivência dos ensinamentos de Jesus. Ele nos legou o Consolador, que é o Espiritismo, oportuno para o estágio evolutivo desse planeta de provas e expiações. Através de seus postulados básicos, como a reencarnação e a lei de ação e reação, explicando a justiça divina, permite-nos desenvolver a fé raciocinada, única forma de atender aos anseios do homem moderno, sedento de respostas lógicas e coerentes, frente aos desafios que está enfrentando.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

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