Da arte de se comunicar

José Renato Nalini

 

Muitos dos problemas enfrentados na convivência vêm da dificuldade em se comunicar. Embora o ser humano seja gregário por natureza, não consiga viver sozinho, o convívio nem sempre é fácil. Quem não se lembra da expressão “o inferno são os outros!”? Isso pode ser verdade, para quem não cultivar a arte da comunicação.

Tanto é arte a comunicação, que a ECA, uma das mais criativas unidades da gloriosa USP, Universidade de São Paulo, é justamente denominada “Escola de Comunicações e Artes”.

No âmbito doméstico, no trabalho, no clube, em qualquer espaço de convivência, comunicar-se adequadamente é fundamental. Há quem ganhe dinheiro ensinando a se comunicar. Todavia, é intuitivo que cada um pode incrementar o seu talento comunicacional, se tiver vontade e se esforçar.

Quem propõe regras para os que pretendem se comunicar para facilitar os contatos na profissão, para exercer liderança no setor de trabalho ou para galgar alguma posição almejada, lembra que há pelo menos dez mandamentos a serem observados.

O primeiro é conhecer o seu objetivo. Você tem o que falar? Qual a finalidade de seu interesse pela comunicação? Já teve dificuldades quando procurou transmitir algo? Como foi essa dificuldade? A que você atribui tal entrave?

O segundo é conhecer o seu público. Quem é que você pretende convencer? Qual o efeito que aspira obter com sua mensagem? Tem ideia da dimensão de seu alvo? São pessoas a serem abordadas individualmente ou a proposta é atingir grupos?

Em seguida, procure a objetividade. Não disserte, não faça elucubrações, não se perca em complexidades. Um bom discurso – e não precisa ser aquele proferido em público, mas qualquer conversa – não pode ultrapassar três tópicos. Ninguém se recordará de uma séria infinita de argumentos.

Neste ponto, lembro-me de ouvir o Cardeal O’Connor, quando era o Arcebispo de Nova Iorque. Todas as manhãs, na Catedral de St Patrick, ele fazia uma homilia curtíssima. E mencionava três pontos. Ninguém se esquecia do que ele falava. Enquanto que os sermões prolongados, com inúmeras citações, não repercutem. Depois de cinco minutos, os ouvintes estão viajando mundo afora.

Meu tio sacerdote, Monsenhor Venerando Nalini, costumava dizer que nos primeiros cinco minutos, o sacerdote pregava para os fieis. Dos cinco aos dez minutos, Deus ainda o ouvia. Em seguida, se continuasse a falar, ele estaria servindo ao demônio.

O quarto mandamento é ser animado. Às vezes somos mais desanimados do que imaginamos. É verdade que não existe muito motivo a demonstrar entusiasmo com o Brasil de nossos dias. Mas alguém precisa empunhar a chama da esperança. Às vezes, é preciso exagerar. Enfatizar. Um professor de oratória diz que “se você não se sente um pouco idiota ou ridículo, não está fazendo direito”.

Um quinto mandamento é tornar a primeira impressão marcante. Ela influencia todo o resto. Esse quinto mandamento se relaciona com o décimo, como se verá. Mas é preciso caprichar na abordagem.

A sexta norma é não ser mecânico, nem automático. Se há uma mensagem a ser transmitida, ela não pode sê-lo por um robô. Alguém sem vida, sem empolgação. Ainda que se repita idêntica dicção pela décima vez, em cada uma delas é preciso não se esquecer da confiança. Do entusiasmo de quem acredita naquilo que está falando.

O sétimo mandamento é usar frases de impacto. Frases memoráveis. Algo que ajude a clarear as coisas e a criar um clima favorável. O oitavo é provocar o “uau”! É preciso fazer com que seus ouvintes exclamem: “Uau! Que interessante! Eu não havia pensado nisso!”.

O nono é dizer a verdade. Qualquer comunicação deve primar pela veracidade. Mentir é inadmissível. Ainda que isso torne a comunicação algo indigesto, nunca transigir com a verdade.

Por fim, o décimo dever do bom comunicador é ser polido, sereno, cordial, amistoso. Ainda que a presente fase brasileira tenha despertado a ira, o ódio, a violência incruenta e até a cruenta, as pessoas equilibradas têm necessidade de trazer civilidade ao diálogo. Ainda que não se concorde com o que é dito, ouvir o semelhante é a primeira regra que se espera de alguém capaz de reconhecer em cada ser humano o titular de uma dignidade ínsita. Boa comunicação a todos nós!

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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL); foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

 

 

 

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