Pantanoso mundo da política

Antonio Lara

 

Em sendo de fato e de direito, instituições de Estado e não de governos, quanto mais equidistantes as nossas forças armadas se mantiverem, sobretudo, das nossas atividades políticas partidárias, mais a nossa democracia sairá ganhando. Nem mesmo o fato do nosso presidente da Republica, como reza a nossa constituição dos miseráveis, ser o comandante e chefe das nossas forças armadas, possibilitará que a política adentre nos quartéis e vice-versa.

Desde a proclamação da nossa atual constituição que as nossas forças armadas vinham se comportando exemplarmente. Até chegaram, numa demonstração inequívoca de apoio a nossa nascente redemocratização, a não reagir às agressões insultuosas, por vezes absolutamente descabidas, que lhes eram dirigidas. Melhor exemplo não poderia dar dado. Resultado: as nossas forças armadas restabeleceram o respeito e o prestigio que havia perdido em razão do período 1964/1984, em razão da presença dos militares no comando do nosso país.

Após as eleições do então presidente Fernando Collor, em 1989, e a partir dele, todos os presidentes que se seguiram mantiveram com as forças armadas o mais saudável dos relacionamentos. Em quase todos eles, o próprio Ministério da Defesa passou a ser ocupado por um civil. E o mais impressionante: não se tem noticia que tenha havido nenhum entrevero entre o ministro da Defesa e os três comandantes militares: exército, marinha e aeronáutica.

Portanto, os últimos acontecimentos envolvendo os militares nos causam surpreendentes e preocupantes surpresas. E não seria para menos, afinal de contas, foi demasiadamente radical a mudança recentemente processada nos mais altos escalões das nossas forças armadas, a não ser que a nossa própria sociedade, já bastante maltratada pela Covid – 19, pelo desemprego  e parte, ameaçada pela fome, seja devidamente esclarecida e convencida que nada grave esteja acontecendo.

Sabemos, perfeitamente, que estamos a enfrentar o mais grave período da nossa história, pois a conjunção de varias crises: econômicas, fiscais, políticas e sanitária não terão solução a contento á curto prazo, e mais ainda sabemos que as soluções de médio e longo prazo só virão, se todos nós, individual e coletivamente, com nossos espíritos desarmados, nos unirmos e nos munirmos de um único propósito: evitar o aprofundamento de cada uma das nossas crises. Do contrário, a pior de todas as crises, aquela que atende pelo nome de caos social, será inevitável.

Para tanto, nem a política deve intervir nos quartéis e nem os militares, enquanto instituição, devem adentrar no pantanoso mundo da política.

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Antonio Lara, articulista, [email protected]

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