O sentido? Sentir!

Natalia Mondoni

 

Na semana passada, a psicologia moderna perdeu Contardo Calligaris, genial psicanalista italiano que viveu por muitos anos no Brasil. Autor de livros excepcionais, semana passada relembrei uma frase dele que divido com vocês “Acho que a gente procura sentido demais para a vida. Uma das razões para a infelicidade, eu acho, vem dessa incapacidade de viver com leveza, de conviver com o fato de que a vida não tem sentido”.

E talvez seja isso mesmo. Em tempos em que ouvimos tanto sobre propósitos e razões, talvez seja razoável pensar que o sentido de nossos dias sejam os próprios dias, as pequenas ações que vamos vivendo, que vamos dividindo, que vamos somando, que vamos subtraindo. Buscamos soluções e razões mirabolantes para viver uma realidade que, muitas vezes, não é a nossa. Complicamos o que é simples e direto. E, neste tempo em que temos vivido tantas perdas, perdas irreparáveis e sentido medos incontroláveis, podemos entender o quanto é urgente nos encontrar nos pequenos detalhes das nossas rotineiras vidas. O pão que a gente atravessa a rua ali para comprar, o apelido que você chama o seu filho, o momento em que você chama a esposa para assistir um filme, o beijo de boa noite, o cafezinho fresco. Esta perspectiva nos proporciona, ainda, entender que devemos nos deleitar com cada corriqueira ação da nossa vida, pois nossa vida é, sem sombra de dúvida, finita. É o que talvez mais incomode nestes tempos: não sabemos do amanhã. Na verdade, nunca soubemos e não saberemos. Mas esta verdade sendo colocada em xeque todos os dias, em todos os lugares, nos incomoda. Nos angustia e nos choca. Nos perturba e nos amedronta,

Dizemos que não queremos parecer mórbidos por pensar nisso, e, na realidade, ninguém quer (e deve) focar a sua existência pensando no que virá depois. Porém, talvez seja necessária a perspectiva que a finitude da vida nos traz, para que possamos, exatamente, valorizar e viver uma vida melhor. Uma vida que vale ser vivida, assim como Contardo diz em sua frase. Sem sentido, porém boa.

Portanto, preparação talvez não seja a melhor palavra, mas estas perspectivas nos trazem importantes pensamentos, e, talvez, eles nos ajudem a entender com mais clareza e maturidade quem somos, o que fazemos, como nos relacionamos, como nos cuidamos, como vivemos.

Vamos viver com sentido, sentindo? Com carinho,

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Natalia Mondoni, psicóloga; Instagram @psinataliamondoni

 

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