Natalia Mondoni
Estava semanas atrás assistindo ao filme “Era uma vez um sonho”, que relata o drama de uma família assolada pelo vício e as relações que desenrolam perante esta perspectiva, e ouvi a seguinte frase: “Nós somos o lugar de onde viemos, mas todos os dias escolhemos quem nos tornamos”. Fiquei pensando em como isto aparece muito nas conversas com as pessoas, nos atendimentos e em situações que cada um de nós observa, até mesmo, em nossas próprias vidas e nossos relacionamentos familiares.
Certamente muitos de nós trazemos algumas marcas, sofrimentos ou dores mal curadas de nossa vida, do nosso passado, e da forma como fomos nos constituindo – física, psíquica, afetiva – como pessoas. Muitas delas são marcas boas, outras nem tanto. Porém, uma coisa é certa: precisamos seguir em frente, apesar delas. Precisamos prosseguir com as nossas vidas, fazendo com que nossa existência valha a pena. Sobretudo: precisamos, como adultos e responsáveis pela nossa própria existência, encontrar soluções e coragem para resolver, ressignificar, lidar com essas feridas. E, obviamente, isto não é processo fácil. A família é referência primeira e, bem como a frase diz, tudo que nos compõe começa a partir dela. Mesmo que a composição seja de vazio, dor, sofrimento, negação. Mas é exatamente neste ponto que precisamos refletir: existe um momento em que uma certa ruptura precisa acontecer para que aconteça o nosso amadurecimento. Esta ruptura só consegue ter substância se, de fato, nos permitimos experimentar e tomar as próprias decisões, arcar com nossas escolhas, correr riscos. Talvez seja aqui que conseguimos entender qual o tamanho da nossa responsabilidade diante do que nos acontece e, desta forma, escolher melhorar, evoluir, prosseguir, mesmo diante de tantas dores, tantas marcas. E talvez aqui a gente consiga fazer uma constatação muito importante: pessoas erram e cometem seus enganos. Até mesmo família. E isso não significa que você precisa, necessariamente e por ser dentro do seio familiar, se responsabilizar ou concordar com tudo. Precisamos encontrar a justa medida entre nos sentirmos verdadeiramente gratos pelo que foi nos oferecido enquanto humanos por nossa família, mas suficientemente capazes de produzir nossos próprios pensamentos, opiniões e visão de mundo para irmos adiante, construindo nossa própria realidade, modificando-a, certamente.
Portanto, seja qual for a sua marca, é sempre importante lembrar: você pode escolher o que fazer com ela. Manter, curar…Talvez seja difícil, talvez seja necessária uma boa dose de coragem, mas é importante ter convicção da necessidade e da permissão que você dá a você mesmo para pensar e agir sobre isso. E, mais do que tudo, que todos merecemos uma generosa dose de felicidade. Talvez esta independência possa te trazer a tao sonhada liberdade e leveza para a vida que merece ser vivida.
Vamos juntos? Com carinho,
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Natalia Mondoni, psicóloga, Instagram @psinataliamondoni