Se lançar… e crescer!

Natalia Mondoni

 

Em meu trabalho como psicóloga, um dos públicos que eu mais tenho prazer em trabalhar são os jovens. Sim, aqueles a quem eu chamo carinhosamente como jovens adultos – já saíram da adolescência, e estão fazendo exatamente a transição para a vida adulta. Nas longas conversas com eles, percebo algo que está muito comum, atualmente: a dificuldade em tomar decisões. E, neste caso, preciso ser justa em dizer que não somente eles estão passando por estes dilemas: de forma geral, todos nós estamos tendo cada vez mais dificuldades em tomar decisões e assumir as rédeas da própria existência.

Bem, e o que apresentei acima pode se apresentar como uma pista do que nos anda acontecendo: enquanto jovens, não “treinamos” suficientemente a habilidade em correr riscos e a decidir as pequenas e as grandes coisas referentes à nossa vida, levando em consideração, por exemplo, as consequências. Na sequência, levamos esta dificuldade para a fase seguinte da nossa vida. E aí que constato quantas deficiências andamos tendo neste sentido. Pessoas que não sabem se querem ou não continuar no trabalho, se desejam ou não manter um relacionamento, e, pior que isto: não fazem a menor ideia do que é melhor para si mesmo. Aqui é o mais grave: se não sei o que é melhor para mim mesmo, quem saberá? Muito desta dificuldade em tomar decisões esconde, ainda, uma outra dificuldade enfrentada por nós: medo do erro, do fracasso, e da necessidade insana, na maior parte do tempo, de querer ter certeza de tudo em nossa vida. De garantir que tudo saia perfeitamente e da forma como gostaríamos.

E aqui volto ao problema que iniciei este texto, que não deixa de funcionar como um questionamento: se queremos controlar tudo, fazer as coisas ao nosso próprio tom e próprio gosto, e se temos dificuldades em admitir que não vamos sempre acertar, o que estamos transmitindo a esses jovens, que, antes disso, são crianças? O que estamos mostrando com as nossas atitudes de virar as costas a processos importantes da vida?

Sinto que as vezes estamos nos privando e, infelizmente, privando as pessoas que nos são caras de decepções, de frustrações, e, com isso, de entender de fato a vida como ela é: natural. Naturalizada de tudo o que existe: amor, ódio, tristezas, alegrias, sucessos e fracassos. A verdade nua e crua, por assim dizer, mas necessária. Ainda assim, a realidade.

Talvez o maior ato de cuidado e generosidade que podemos oferecer aos mais jovens seja exatamente isso: permitir-se. Entender que a maturidade vem não com a nossa idade cronológica, como muitos de nós acreditamos, e sim com as nossas vivências, como reagimos aos nossos acontecimentos, com nossa capacidade de resistir, com a nossa alegria nos momentos em que a força não se fizer necessária.

Portanto, que possamos refletir e encontrar a justa medida entre se poupar e se proteger, se lançar e se arriscar, para que possamos ter uma vida que valha a pena ser vivida: aquela que mesmo com os erros e dificuldades, nos fez crescer e ter substância.

Vamos juntos? Com carinho,

______

Natalia Mondoni, psicóloga; Instagram @psinataliamondoni

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima