Matheus Ferreira
Acredito que um dos gêneros favoritos de filmes de terror de todo mundo são os filmes de Zumbis, mortos-vivos que aparecem do nada e vagam pelo mundo dos vivos em busca da única coisa que os podem saciar, cérebros humanos. Toda essa introdução é pra relatar um evento muito ruim e parecido que acontece na vida real, mas não com humanos e sim com empresas, e posso garantir que esse definitivamente não é o gênero favorito de empresa para os credores.
Uma empresa pode ser caracterizada como uma empresa zumbi por ter dificuldades em conseguir arcar com suas despesas de curto prazo, algumas até conseguem lucro suficiente para com suas despesas básicas como salários, impostos e os fornecedores, mas no geral elas não conseguem muito mais que isso, o que significa que elas não conseguem fazer a devida manutenção de sua infraestrutura resultando em perda de competitividade assim se deteriorando em relação às empresas “saudáveis”, além disso, elas não podem pagar suas dividas ou investir em novas tecnologias sem a obtenção de novos empréstimos.
Dai vem nossa analogia aos zumbis de Hollywood, já que essas empresas vagam entre os limites da insolvência e a da viabilidade, apresentando uma inesgotável sede de liquidez, e estando dispostas a ir até as ultimas consequências para obtê-los.
A sua perda de competitividade e de mercado somadas com as necessidades cada vez maiores de crédito, deixam os potenciais credores e investidores receosos em investir nelas, visto que com o passar dos tempos à situação só piora e as possibilidades deles recuperarem o valor investido diminuem.
Cito abaixo, as três principais causas que aumentam a quantidades de empresas zumbis em um país e a relação delas com os eventos que vivemos na atualidade.
-O alto índice de endividamento: não necessariamente isso resulta de “muitas idas ao banco”, geralmente, isso acontece quando empresas adquirem empréstimos em momentos em que o crédito esta mais barato, porém com taxa de juros pós-fixada, o resultado disso é que com o aumento da Selic há um reajuste nos juros que deve ser pago, assim essa conta sobe sozinha. Nosso país passou por um momento da mais baixa taxa Selic da história, e o IPCA começou no final do ano passado a registrar aumentos consecutivos, assim é de se esperar que em breve o Banco Central passe a aumentar a Selic como resposta.
-Empréstimos em moedas estrangeiras: é comum empresas buscarem crédito no exterior, isso acontece principalmente quando a taxa de juros domestica (nacional) é mais elevada do que as taxas cobradas lá fora, assim as empresas veem isso como uma oportunidade de pagar um montante mais baixo no final das contas, o problema é que as desvalorizações cambiais podem acabar fazendo com que o custo desse empréstimo aumente, ás vezes até podendo ficar mais caro do que se tivessem feito o empréstimo no país, dito isso, posso ligar ao fato de que as notícias estão apontando o Real como a moeda que mais se desvalorizou no mundo nos últimos meses.
-Queda na Demanda: O período de crise provocado pela pandemia de corona vírus resultou nessas quedas, seja pelas restrições utilizadas para reduzir a propagação da doença, pelas reduções de salários e demissões ou pelo temor dos consumidores em relação ao vírus.
Mas felizmente esse processo é reversível, no livro Manias, Pânicos e Crises, de Charlie Kindleberger, existe o momento em que o autor relata sobre a crise de 2008, nele usa-se a General Motors como um exemplo de empresa zumbi, que por ter recebido apoio do governo americano conseguiu se salvar da falência e voltar a se consolidar como uma das maiores do setor.
Por isso, o caminho para se evitar uma quebradeira de empresas no país passa pelas mãos dos nossos governantes que precisam arrumar um meio, assim como o governo americano durante a crise de 2008, para auxiliar as empresas brasileiras e facilitar a recuperação econômica do país.
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Matheus Ferreira, acadêmico de Ciências Econômicas (Instagram @f_matheusferreira)