Centenário de nascimento: uma mulher além do tempo – Floripes Rosamiglia Marino

Floripes Rosamiglia Marino, caráter íntegro, dedicação plena – Crédito: Álbum de Família

A luz da beleza, a força do caráter, o aconchego da anfitriã e a visão dos sonhos retratam a filha, a irmã, a mãe, a amiga Floripes Rosamiglia Marino.

Há 100 anos, em 10 de fevereiro de 1921, em Piracicaba, nascia Floripes, mulher que se tornaria uma das mais ilustres, extraordinárias e beneméritas cidadãs da cidade de Rio das Pedras.

Filha primogênita de Nicolino Rosamiglia e Maria Zito Rosamiglia integrava uma família de nove filhos: Floripes, Pascoalino, Vera, Orlando, Moacir, Zoraide, Nelson, Ivanilde e José Eduardo. Filhos tenazes, exemplos de coragem, honestidade e de força do trabalho nas habilidades da arte da madeira.

Orgulhava-se de ter estudado na Escola Estadual Morais Barros, em Piracicaba.

Em 1937, a família de Nicolino Rosamiglia muda-se de Piracicaba para a cidade de Rio das Pedras, onde ali vieram a nascer os três filhos mais novos: Nelson, Ivanilde e José Eduardo. Floripes, então a filha mais velha, sempre atenta às suas incumbências e responsabilidades, dividia com a mãe os serviços domésticos e os cuidados para com os irmãos.

Dentre as vicissitudes e percalços da vida, o falecimento repentino de sua mãe em outubro de 1944 exigiu que o pai, Nicolino, e os filhos mais velhos assumissem a condução da família. Floripes irriga, nesse momento doloroso, a seiva da força e da coragem necessárias para a continuidade da construção da família Rosamiglia.

Casou-se com Américo Gumercindo Marino em 12 de dezembro de 1945, filho de uma família de italianos, pioneira e atuante no progresso da cidade de Rio das Pedras, e teve um casal de filhos: Célia Maria, casada com Artur Eduardo Aymoré, e Américo Jr., casado com Eliana Aparecida Andrade. Contava, também, com dois netos: Fabíola, casada com Renato Bianchi; e, Pedro Paulo, casado com Inez Torres Ayres. E, três bisnetos: Heitor, de sete anos; Isabel, com três anos; e, João Paulo, com um ano de idade.

Um dos traços marcantes de Floripes foi a notável habilidade manual, herança de família, no desenho, no bordado e na costura.

Dotada de inteligência excepcional, sabia transpor, com maestria, os modelos vistos e imaginados para as linhas, as agulhas e os diferentes tipos de tecidos. Produziu lindos trabalhos, até hoje presentes em, praticamente, todas as gavetas das casas das famílias de Rio das Pedras. Muitas meninas, hoje jovens senhoras, foram vestidas por Floripes para fazerem a primeira comunhão, ou para o enxoval de casamento e os de seus bebês.

Aos 90 anos ainda dedicava-se ao crochê que fazia com muita arte e criatividade. Foram incontáveis caixas de panos de cozinha feitos por Floripes com todo o carinho e bom gosto.

Sabia aplicar essas notáveis habilidades junto à família, destacando-se como primorosa dona de casa, com muito bom gosto na decoração e na culinária. Vale lembrar aqui da sua macarronada, o seu nhoque e o doce de mamão em calda, além de muitos outros pratos.

Assim como atuou também junto à comunidade riopedrense. Por muitos anos trabalhou como voluntária, na costura do vestuário dos médicos e roupas das enfermarias do Hospital e Maternidade São Vicente de Paula da cidade, e contribuiu com muitas campanhas e festividades promovidas pela Igreja do Senhor do Bom Jesus da Paróquia de Rio das Pedras.

Como anfitriã nata, recebeu em sua residência com muito carinho e cuidados autoridades eclesiásticas da Igreja Católica, como também, parlamentares e governadores de Estado como primeira dama do município, por ocasião em que seu marido, Américo Marino, desempenhou as funções de Prefeito Municipal.

Dedicava-se, além disso, na promoção de festas familiares, encontros de amigas para cafés da tarde, e nas rezas de terço por ocasião das novenas do calendário religioso.

Traço marcante do constante zelo na convivência com parentes e amigos, agregava e fortalecia os laços das famílias sempre com muito amor e amizade. Nunca se esqueceu dos aniversários dos seus amigos, amigas e parentes, sendo uma das primeiras a cumprimentá-los.  A solidariedade para com os seus e com os amigos era uma das suas principais características em todos os momentos de alegria, prosperidade e de dificuldades.

Seu caráter íntegro e firme primava pela justiça em sua conduta familiar e social, sendo esta virtude a coluna mestra, o exemplo e a referência para o crescimento e desenvolvimento da sua família nuclear e da família ampliada.

Floripes, como disse o poeta: “Teus ombros sempre conseguiram suportar o mundo que te cercava e ele não pesa mais que a mão de uma criança”.

Lutou pelos seus sonhos e os realizou; transmitiu aos seus filhos e irmãos a importância da busca e a admiração pelo novo e pela modernidade. Viveu intensamente, ensinou a todos a importância da coragem, do amor e da luta pelos próprios sonhos.

É a nossa gratidão pelo seu infindável amor, não só aos seus filhos e família, mas por este anelo com que nos cercou em toda a sua vida, como uma ponte que atravessa o caudaloso rio, que nos permitiu e ainda permite superar o medo, todos os anseios e crenças na esperança.

Hoje, festejamos junto com a cidade, dez décadas em que nasceu Floripes. Com o seu olhar terno e observador, viu desfilar as ilhas do mundo com palmares de sonhos, como quem espreita um jardim onde os outros estão. E, agora, repassamos todo o seu passado sob o céu tranquilo, como alguém distraído na viagem dá à saudade a riqueza de emoção que traz a data.

Floripes, a sua lição é a de uma heroína além do seu tempo. A que soube ultrapassar todos os desafios, que nos proveu de todas as sabedorias, que ajudou alterar a rota de nossos destinos. Sempre guerreira, foi a bússola constante e serena, sinalizando o melhor caminho.

A nossa inesquecível e amada Floripes faleceu em 7 de fevereiro de 2013, de morte natural, deixando um legado de sabedoria, tenacidade e amor que ultrapassa nossos tempos e ilumina as suas futuras gerações.

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Américo G. Marino Jr., Artur Eduardo Valente Aymore, Celia Maria Marino Rodrigues Ayres e Eliana Aparecidas Andrade (autores)

 

 

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