O que a saída da Ford tem a nos mostrar?

Matheus Vicente Ferreira

 

Recentemente a notícia de que a Ford, a primeira montadora a operar no Brasil, optou por fechar todas as suas três fabricas pegou todos de surpresa, e o problema é que eles não são um caso isolado, mês passado a Mercedes-Benz que fabricava seus carros em Iracemápolis também fechou sua fabrica de menos de cinco anos, além deles temos um programa de demissão voluntaria da Volkswagen e a Audi suspendeu suas produções e pretende apenas reabrir apenas em 2022.

O caso da Mercedes foi mais esperado tendo visto que sua produção se concentra em carros premium, e com o empobrecimento da população brasileira o negócio se tornou menos viável, outro grande problema que a montadora afirmou foi a da enorme dificuldade de produção de carros elétricos no país por conta dos custos absurdos que seriam necessários para a fabricação desse tipo de veículo por aqui, dessa forma eles optaram por fechar sua fabrica e sair definitivamente do país.

Mas e o caso da Ford? A montadora que operava no país há mais de 100 anos alegou uma série de problemas que levaram ao fechamento da fabricas brasileiras, quase todos referentes ao chamado “custo Brasil” um problema que os economistas vêm tentando combater a décadas, mas que a pandemia e as crises econômicas e politicas apenas agravaram nos últimos anos.

O “custo Brasil” são umas séries de problemas que os empresários têm que “colocar no papel” para investir no país, esses problemas são incomuns no mundo desenvolvido, sendo uma característica do ambiente de negócios brasileiro, entra nessa conta a baixa produtividade da mão de obra brasileira (estagnada desde 1987), tributação alta e confusa, problemas de transporte e logística, problemas de segurança, riscos econômicos, insegurança jurídica, a barreira à entrada de novos insumos de produção e maquinas e a grande desvalorização cambial que o país vem passando.

A desvalorização cambial acabou prejudicando muito os investimentos em tecnologias que a sede brasileira da Ford precisava para atualizar e fazer suas alterações nas linhas de produção, investimentos que viabilizariam a produção de carros elétricos, que são cada vez mais exigidos globalmente e a alteração da produção brasileira de carros de pequeno porte como o KA para Picapes, Van´s e SUV´s, que tem sido a estratégia global da montadora.

Outro problema acarretado pela desvalorização refere-se aos preços das peças que a Ford usava para a produção de seus veículos, algumas delas tinham que ser importadas, já que não são produzidos no país, e dessa forma, o custo de importar peças com o dólar tão valorizado, para montar o carro em solo brasileiro e vender no mercado interno faz com que os custos disparem.

O empobrecimento do país prejudica não só a Ford, mas todas as montadoras que fabricam por aqui, já que se torna mais vantajoso comprar carros baratos (pequeno porte) ou carros usados, e as consequências disso são a redução da produtividade e a escala de produção das indústrias, e por consequência disso, os custos de fabricação aumentam. Os dados do setor indicam que o parque automotivo brasileiro é tão ineficiente que tem uma produção média anual de 2 milhões de veículos por ano, sendo que a capacidade máxima do setor é de 5 milhões.

Não apenas montadoras estão fechando, mas outras grandes empresas também estão deixando o país, como a Sony, o que reforça a ameaça de desindustrialização da economia brasileira. O “custo Brasil” não será resolvido do dia para a noite, e muito menos será resolvido sem investimentos e políticas públicas, mas o desenvolvimento do país depende que o problema seja resolvido o quando antes para que voltemos a crescer no ritmo de um país emergente. Devemos olhar para a saída da Ford no Brasil com pesar, mas aprendermos com o próprio erro, para evitarmos a continuação da desindustrialização do país.

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Matheus Vicente Ferreira, acadêmico de ciências econômicas

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