Podemos evitar a obsessão espiritual?

Alvaro Vargas

 

O Espiritismo esclarece que vivemos em sintonia mental com os espíritos encarnados e desencarnados. Com uma população quase três vezes maior que o número de habitantes encarnados na Terra, os espíritos que vivem na erraticidade desse planeta, assemelham-se a nós, no aspecto moral, e se aproximam conforme à afinidade moral, tanto os bons quanto os maus. No mundo material, geralmente escolhemos a companhia que queremos. Podemos fechar a porta de nossa casa, e impedir o ingresso de quem não desejamos conviver em nosso ambiente. Mas, com os espíritos, não ocorre dessa forma. O nosso estilo de vida e os nossos pensamentos são “convites” para aqueles que se encontram no mundo invisível, possam se aproximar de nós.

Embora possa ser relativamente fácil estabelecer uma sintonia com os bons espíritos, o difícil é manter essa associação por um longo período. Durante a divulgação da Boa-nova, Jesus questionou: “que dizem os homens ser o filho do homem?” (Mateus, 16:13-20). Pedro inspirado, o identificou como o Messias: “tu és o Cristo, o filho de Deus vivo”. Isso lhe valeu um elogio de Jesus, pois obtivera essa revelação, através da influência das altas esferas espirituais. Ainda nessa reunião, Pedro ao tomar conhecimento dos padecimentos que Jesus sofreria, em Jerusalém, expressou dúvidas sobre a sua veracidade, e questionou a proteção divina. Jesus, então, o advertiu de forma severa: “afasta-te de mim, Satanás que me escandalizas; não compreendes as coisas de Deus e temes, pensando nas humanas”. Pedro não conseguiu compreender, porque inspirado por Deus em um dado momento, foi depois censurado, devido a sua sintonia com os espíritos obsessores. Buscando uma explicação junto a Jesus, que demonstrava compreender as limitações de Pedro, o Mestre explicou a necessidade da vigilância e da oração (Boa Nova, Humberto de Campos e Chico Xavier).

Esse episódio com Pedro na Galileia, e outro em Jerusalém, no qual ele negou Jesus por três vezes na noite que antecedeu a tragédia do Gólgota, sugere uma reflexão sobre a facilidade que tem os espíritos maus de nos obsidiarem. Antes de ser preso, Jesus profetizou que Pedro o negaria (Mateus, 26:34). Pedro não acreditou, e provavelmente para demonstrar a sua fidelidade, atacou com uma espada os soldados que iriam aprisionar o seu Mestre (João, 18:10). Entretanto, durante a noite, ao verificar a animosidade e as acusações contra os nazarenos, teve medo, e negou Jesus. Ao raiar do dia, após o galo cantar, Pedro se recordou da advertência recebida, e fugiu para um local isolado, envergonhado de sua atitude. A esse respeito, o espírito Humberto de Campos esclarece que Jesus, em espírito, foi até Pedro, consolando-o: “na verdade, o homem deste mundo é mais fraco do que perverso”.

Se o apóstolo Pedro, alma de escol, escolhido por Jesus ainda na erraticidade para realizar a tarefa de consolidar o cristianismo nascente, demonstrou fraqueza moral na hora do testemunho, o que dizer do restante da humanidade. A fragilidade moral de Pedro, nos primeiros anos de seu messianato, que permitiu a influência dos espíritos obsessores em suas decisões, serve de alerta para todos nós. Por isso, quando perguntado por Allan Kardec, se os espíritos influenciam os nossos pensamentos e os nossos atos, o “Espírito de Verdade” respondeu: “Mais do que imaginais, pois, com bastante frequência são eles que vos dirigem” (O Livro dos Espíritos, questão 459). Nosso livre arbítrio é relacionado com o nosso pensamento, cuja sintonia é estabelecida com os espíritos conforme a nossa vontade. Se desejamos ser influenciados apenas pelos bons espíritos, tenhamos a humildade de reconhecer a necessidade de nossa transformação moral, eliminando as más tendências e adquirindo hábitos saudáveis. Desde que tenhamos persistência na vivência dos postulados cristãos, conseguiremos atenuar ou mesmo eliminar a influência dos espíritos obsessores.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo,Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

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