Nós realmente nos conhecemos?

Alvaro Vargas

 

No antigo templo dedicado ao deus Apolo, em Delfos, na Grécia, existia uma inscrição: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro em ti mesmo, não acharás em lugar algum”. Essa não é uma tarefa fácil, e provavelmente iremos necessitar de inúmeras reencarnações para aprender a nos conhecermos melhor. O espírito Agostinho (teólogo, bispo de Hipona, Argélia) cita que durante a sua jornada terrena, tinha o hábito de todas as noites,passar em revista a sua atividade diária, realizando uma análise crítica sobre a sua própria conduta. Dessa forma, ao constatar que o seu procedimento não era adequado, ele conseguia mudar as suas atitudes; sugere que façamos o mesmo (Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 919).

Em diversas oportunidades, Jesus nos convidou a realizar uma autocrítica. Foi assim quando mencionou: “Por que reparas tu o cisco no olho de teu irmão, mas não percebes a viga que está no teu próprio olho?” (Mateus, 7:3); criticou a hipocrisia vigente naquela época:“Ai de vós, doutores da Lei e fariseus, hipócritas! Porque sois parecidos aos túmulos caiados: com bela aparência por fora, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e toda espécie de imundície!” (Mateus, 23:27). Na visão espírita, compreendemos que o autoconhecimento traz a humildade, e é impossível ser feliz sem cultivá-la. Trazemos ainda um condicionamento mental, bagagem pretérita de várias reencarnações, no qual aspiramos, após a nossa morte biológica, adentrar no “paraíso”, tanto um céu contemplativo (conforme as religiões cristãs institucionalizadas) ou as “cidades espirituais” conforme esclarecido pelo Espiritismo. Mas essa busca exterior é um equívoco efomos alertados por Jesus: “O reino de Deus está dentro de vós” (Lucas, 17, 20-21); e o espírito Emmanuel (O Consolador, questão 232, Chico Xavier) cita que “como nos tempos mais recuados das civilizações mortas, temos de reafirmar que a maior necessidade da criatura humana ainda éo conhecimento de si mesma”.

Importante ressaltar que através do autoconhecimento melhoramos o nosso relacionamento interpessoal; é um equívoco buscar o isolamento como ocorreu no passado com os “eremitas”. O homem é um ser gregário e necessita do relacionamento social para evoluir. Mas, além de aprimorarmos a autocrítica, necessitamos de avaliar o cenário onde nos encontramos. A Terra é um planeta de provas e expiações, onde ainda predomina a maldade. Deus é um Pai bondoso e justo, e permite vivenciarmos as experiências terrenas, de acordo com a nossa necessidade evolutiva. O estresse ao qual somos submetidos,funciona à semelhança dos catalisadoresutilizados nas reações químicas; somos “desafiados”, diariamente, a revelar a nossa verdadeira personalidade, ao sofrermos os “impactos” das provas no qual somos submetidos. Os nossos “condicionamentos mentais”, frutos das experiências reencarnatórias, tendem a nos conduzir aos mesmos equívocos do passado, ressaltando a necessidade de nos conhecermos,de modo a superarmos as más inclinações. De acordo com Allan Kardec “Reconhece-se o verdadeiro espírita (cristão) pela sua transformação moral e pelo esforço que empreende no domínio de suas más inclinações” (Livro dos Espíritos, cap. 7).

O processo de autoconhecimento possibilita a modificação de antigos hábitos, criando uma atitude mais positiva perante a vida. Passamos a compreender as limitações daqueles que seguem conosco na jornada terrena, e vivendo de forma mais fraterna, independentemente do nível intelecto-moral e das questões materiais. E,Jesus indicou esse caminho, quando afirmou: “Buscai a verdade, e a verdade vos libertará” (João, 8:32). É a verdade sobre nós mesmos, virtudes e defeitos, que temos premente necessidade de conhecervisando realizar a necessária transformação moral.

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Alvaro Vargas, Eng. Agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

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