José Renato Nalini
A Inteligência Artificial já está dominando nossa vida. Começou aos poucos, gradualmente. Vamos nos acostumando, porque ela facilita as coisas. A maior parte das pessoas já não vive sem ela.
Como estratégia de aprimorar a convivência, ela está a serviço da humanidade. Só que o animal humano é um ser bastante complexo. Tem livre arbítrio. Pode escolher o bem, mas pode preferir o mal.
Todos sabemos que há muito se discute a vocação da espécie. Somos seres afáveis, cordiais, idílicos e ingênuos, como queria Jean-Jacques Rousseau, numa tradução singela de seu “Contrato Social”? Ou somos lobos prontos a devorar o nosso semelhante, na concepção de Thomas Hobbes, autor de “O Leviatã”?
Talvez nem cordeiros, nem lobos. Mas seres pensantes, que podem oscilar e reencetar a caminhada a cada equívoco. Essa a fragilidade, mas também a força do homem. Poder recomeçar. Falseia, se equivoca, escorrega, claudica e cai. Mas se levanta e prossegue a caminhada, ajustando a rota àquilo que sempre deveria ter sido.
A Inteligência Artificial, se bem utilizada, pode ser enorme benefício para a humanidade. Para isso, é essencial observar a ética, ciência do comportamento moral do homem em sociedade, que precisaria presidir toda a atuação dos racionais sobre o planeta.
A OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, elaborou cinco princípios para a Inteligência Artificial: 1. Deve beneficiar as pessoas e o planeta, garantindo o crescimento inclusivo, a sustentabilidade, o desenvolvimento e o bem-estar de todos; 2. Todos os sistemas de Inteligência Artificial devem ser desenvolvidos de forma a respeitar o estado de direito, os direitos humanos, os valores democráticos e a diversidade. E devem incluir salvaguardas adequadas, permitindo intervenção humana, se necessário, para garantir uma sociedade justa; 3. Deve haver transparência e divulgação responsável em torno dos sistemas de Inteligência Artificial para garantir que as pessoas entendam os resultados baseados em IA e possam desafiá-los; 4. Os sistemas de IA devem funcionar de maneira robusta, segura e protegida ao longo de seus ciclos de vida, e os riscos potenciais devem ser avaliados e gerenciados continuamente; 5. As organizações e indivíduos que desenvolvem, implantam ou operam sistemas de IA devem ser responsabilizados pelo bom funcionamento deles de acordo com os cinco princípios.
Essa visão ética pentadimensional deve estar presente na consciência de todos os que estimulam o machine learning, o deep learning e fazer com que a Inteligência Artificial não se esqueça de sua artificialidade, nem que o essencial, o substancial e o inegociável é o ser humano.
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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL); foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo