O orgulho e a vaidade

Alvaro Vargas

 

O orgulho e a vaidade estão relacionados com a discriminação racial e religiosa, na nossa sociedade, ocasionando mortes lamentáveis, como as ocorridas durante o genocídio dos armênios pelos turcos em 1915 (1,5 milhão), o holocausto judeu durante a segunda grande guerra (6 milhões), mais recentemente o episódio em Ruanda, em 1994, quando 800 mil tútsis perderam a vida. O espiritismo esclarece que o nosso corpo físico é apenas uma roupagem provisória, e reencarnamos em corpos físicos de diferentes etnias para um aprendizado. Isso desmistifica os conceitos de “pureza de raça” e intolerância religiosa.

A importância de superarmos o orgulho foi ensinada por Jesus, em diversas ocasiões, citando que todos os que se exaltam serão humilhados, conforme as parábolas do rico e Lázaro (Lucas, 16:19-31), o fariseu e o publicano no templo (Lucas, 18:14) e o festim das bodas do filho do rei (Lucas, 14:10-11). Quando questionado sobre quem é maior no reino dos céus o Mestre respondeu “o reino dos céus pertence aos que se tornam semelhantes às crianças” (Mateus, 19:14), sugerindo termos um comportamento mais fraterno e amoroso com o nosso próximo. Em momento significativo, durante a divulgação da Boa-nova na Galileia, quando proferiu o “Sermão da Montanha”, a sua primeira exaltação sobre a importância das virtudes terrenas na conquista da felicidade foi justamente sobre a humildade, citando “Bem-aventurados os pobres de espírito (humildes), porque deles é o reino dos céus” (Mateus, 5:3).

Sobre o orgulho é oportuna a mensagem mediúnica do espírito guia da França (Luís IX) “Em verdade vos digo que o orgulho é semelhante ao joio que afoga o bom grão. Aquele dentre vós que se julga mais que seu irmão e que se vangloria, é insensato. Sábio é o que trabalha por si mesmo, como o humilde em seu campo, sem se envaidecer de sua obra” (“O orgulho, Revista Espírita”, 1858). Além da insensatez, Jesus nos chama atenção sobre a cegueira que o orgulho ocasiona quando questiona: “Por que reparas tu o cisco no olho de teu irmão, mas não percebes a viga que está no teu próprio olho?” (Mateus, 7:3). Leon Denis (“Depois da Morte”) comenta que “Entre todos os homens, o orgulhoso é o que menos se conhece: presunçoso, nada pode arrancá-lo do seu erro, pois ele evita com cuidado tudo quanto serve para esclarecê-lo; odeia que o contradigam e não se agrada senão com a companhia dos aduladores”. Séculos antes de Cristo a preocupação com o autoconhecimento já existia, conforme a frase de grande clareza e concisão, na entrada do templo dedicado ao Deus Apolo em Delfos (Grécia) “Homem, conhece-te a ti mesmo”. Mais tarde na Judeia, Jesus exaltou a necessidade de corrigirmos a nossa miopia espiritual “vendo, não enxergam; e escutando, não ouvem, muito menos compreendem” (Mateus, 13:13), e expandiu ainda mais este conceito sobre a autocrítica: “Buscai a verdade e a verdade vos libertará” (João, 8:32) implicando na necessidade de nos conhecermos melhor de modo a corrigirmos os nossos erros durante o processo evolutivo.

Como vivemos em permanente sintonia mental com o mundo espiritual, Allan Kardec desperta a nossa atenção sobre os riscos que existem na obsessão espiritual por aqueles que se deixam levar pelo orgulho e a vaidade, mencionando que “De todas as disposições morais, a que maior entrada oferece aos espíritos imperfeitos é o orgulho” (“Livro dos Médiuns” cap. XX, questão no. 228). Por isso, um dos últimos ensinamentos que Jesus nos legou quando ainda se encontrava encarnado na Judeia, foi ao se postar humildemente de joelhos, lavando os pés de todos os apóstolos. Se ele, como nosso Mestre demonstrou essa humildade, o que estamos esperando para trabalhar em nossa reforma íntima eliminando ou pelo menos atenuando a vaidade e o orgulho?

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

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