A alma do suicida vai para o inferno?

Alvaro Vargas

Todas as correntes religiosas condenam o suicídio. As consequências para quem pratica esse ato, são apresentadas de diferentes formas, dependendo da religião. No cristianismo, é adotado o sexto mandamento do decálogo de Moisés (não matar); e o suicídio é um assassinato, em que o criminoso é a própria vítima. Para a igreja católica romana, no passado, a interpretação era de que a alma do suicida iria para o inferno, mas nas últimas décadas, teólogos tem sugerido a possibilidade do purgatório. Mas não esclarecem quem teria esse destino, nem quanto tempo permaneceriam nesse local, até o “resgate” para o paraíso. O protestantismo é mais radical nessa interpretação, pois não admite a existência do purgatório; portanto, os suicidas estão condenados ao fogo eterno. Essa é a mesma interpretação no Islamismo: “a quem praticar o suicídio com injustiça e iniquidade fá-lo-emos consumir no fogo. Isso é fácil para Deus” (Alcorão 4:30).

Mesmo o Alcorão representando um avanço no aspecto de religiosidade para as regiões onde se estabeleceu o islamismo, o mesmo tem permitido interpretações equivocadas acerca do suicídio; criou-se no passado, a concepção de que os mártires (que perderam a vida em combate em defesa dessa religião), vão para o paraíso. Essa visão de “martírio” para alcançar o paraíso (Alcorão 3:169-171) serviu aos propósitos expansionistas do islamismo, pois os combatentes aspirando a serem mártires, tornaram-se instrumentos de guerra, importante no aspecto de dominação de outras nações (ex.: expansão do império otomano). Entretanto, a interpretação atual sobre o “martírio” no Islã refere-se a uma conduta que leve a transformação moral do indivíduo. Exceção é feita por uma minoria de religiosos fanáticos, que manipulam esse conceito, induzindo indivíduos despreparados, iludindo-os para se tornarem mártires, através de ataques terroristas (homem bomba). A possibilidade de irem, imediatamente, para o paraíso do Islã, encontrarem-se com as 72 virgens (Alcorão, 56:12-40), é um argumento forte para quem se encontra suscetível a essa “lavagem cerebral”. Evidentemente, esse ato de violência é condenado de forma veemente pelas lideranças religiosas do mundo islâmico.

Existem muitas causas que provocam o suicídio, inclusive a depressão; condenar alguém às incertezas de um purgatório ou ao inferno eterno é uma falta de caridade. Embora o Espiritismo condene o suicídio, difere quando ao destino da alma que provocou esse crime. Compreende a bondade ilimitada de nosso Criador, esclarecendo que não existem pecados sem remissão. Fomos criados à “semelhança” de Deus, e o nosso destino é sermos espíritos puros, através das reencarnações, que são necessárias para evoluirmos. Mesmo caracterizado como um ato criminoso, perante as leis divinas, o suicida, conseguirá, superar as consequências de seu ato tresloucado, e ser feliz (evoluindo através das reencarnações). Geralmente, fica confinado nas regiões purgatoriais do umbral, o tempo que teria de vida restante aqui na Terra. Permanece, nesse local, drenando os fluidos vitais, que lhe permitiram manter a “animação” do corpo físico; ao se exaurirem, o espírito suicida pode ser conduzido para as cidades organizadas do mundo espiritual. Quando necessário, são submetidos a cirurgias de restauração dos órgãos do perispírito que foram afetados, restituindo o equilíbrio. Mas para completar o processo de recuperação, é necessária uma ou mais reencarnações. As “mutilações” do perispírito (provocadas pelo ato suicida), são transferidas do perispírito, para o corpo físico, gerando as lesões que podem se expressar através das cardiopatias, úlceras, idiotia etc., dependendo do órgão lesionado. Ademais, confirmando o amor de Deus com todos os seus filhos, o suicida conseguirá a cura completa, e com a experiência adquirida, terá maior fortaleza moral de modo a evitar que recalcitre novamente nesse crime.

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Álvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita