A Engenharia e as Cidades Inteligentes

Waleska Del Pietro

Cidades conectadas, tecnológicas, sustentáveis e funcionais já são realidade em muitos lugares do mundo. São as chamadas cidades inteligentes, que tem o objetivo de promover o desenvolvimento econômico e aumentar a qualidade de vida das pessoas com o uso da tecnologia. O debate sobre cidades inteligentes começou em meados de 1990 com o Protocolo de Kyoto, mas só ganhou destaque efetivo no ano de 2010 e continua em plena evolução. O conceito varia bastante, pois leva em consideração variáveis principais, como mobilidade, urbanismo, meio ambiente, energia, tecnologia, inovação, economia, educação, saúde e segurança.

Há países que adotaram esse conceito de cidades inteligentes na criação de novas cidades como Masdar, em Dubai, planejada para acomodar até 40 mil habitantes, reduzindo a poluição do meio ambiente com o aproveitamento de recursos renováveis através do monitoramento do consumo de energia nas residências, carros elétricos, energia fotovoltaica por meio de painéis solares e captação de energia eólica através de um grande corredor de vento.

No Brasil, a Smart City Laguna, localizada em Croatá no Ceará, é a primeira cidade inteligente social do mundo e foi projetada para abrigar 25 mil habitantes, priorizando a sustentabilidade e a qualidade de vida dos cidadãos, tem residências acessíveis a todas as faixas de renda, rede elétrica subterrânea, hubs de inovação e de esportes, infraestruturas digitais e todos os espaços públicos criados com o objetivo de promover integração social nos bairros. A escolha do local também foi estratégica para a criação da cidade por estar situada próxima à região do Porto do Pecém e ao Cinturão Digital, que proporciona acesso à internet com maior facilidade e qualidade. Sua construção, iniciada em 2018, permitiu a chegada dos primeiros moradores e está prevista para terminar em 2021.

Entretanto, o maior desafio dos profissionais do século XXI talvez seja aliar os melhores conceitos da engenharia e arquitetura às tecnologias para transformar as nossas cidades em espaços inteligentes, apresentando soluções para a população. Estima-se que em menos de 15 anos, cerca de 40% das cidades sofrerão mudanças profundas e a engenharia certamente faz parte dessa transformação. De acordo com a ONU, até 2050, 70% da população mundial viverá em cidades e isso irá aumentar a demanda por serviços e tecnologia.

Em apenas um minuto, a população mundial gera mais de 5 bilhões de interações digitais com troca de dados e informações pessoais. Essa tecnologia deve ser usada como meio para dar aos cidadãos qualidade de vida através de serviços ágeis prevendo a organização do trânsito, melhorias nas áreas de lazer, sistemas de saúde, preservação do meio ambiente e a participação efetiva da comunidade para as tomadas de decisões.

As cidades são formadas por pessoas que levam para os espaços públicos o reflexo da sua cultura e valores. O primeiro passo para transformar uma cidade em um espaço inteligente é promover mudança através do comportamento, ressignificando as funções desses espaços de acordo com as crenças de cada região. Cuidar dos moradores e do meio ambiente é um fator relevante para a obtenção de uma área mais viva, humana, segura, sustentável e saudável para todos.

É fundamental perceber que o cerne das cidades inteligentes é o SER HUMANO e a ele se dedicam a criatividade, os investimentos e as soluções das interações, considerando novas formas de gestão das cidades, onde cidadãos e governo assumem novos papéis para que possam juntos identificar os problemas do local e pensar na sustentabilidade urbana, interconectando todas as infraestruturas, oferecendo informações de tal forma que a gestão da cidade possa garantir o momento presente e o futuro.

Para se iniciar as mudanças deve-se considerar três pilares: Conhecer a cidade, seus pontos fortes e fracos; definir metas de curto, médio e longo prazo e; fazer parcerias para proporcionar o desenvolvimento sustentável. Ao criar um ecossistema de parceria entre os setores público e privado, a sociedade pode trabalhar na cocriação de soluções inteligentes. A mudança no ecossistema permitirá o desenvolvimento do capital humano e social, além da criação de iniciativas para valorizar o presente e o futuro.

Assim como a tecnologia muda o ser humano, o ser humano também altera a tecnologia, ficando cada vez mais exigente num processo infinito. O futuro já chegou e não voltaremos mais para trás! Precisamos encarar o desafio de aliar nossos conhecimentos técnicos à tecnologias trazendo cada vez mais conforto para a humanidade na busca por cidades mais inteligentes, digitais, sustentáveis e humanas.

Waleska Del Pietro Storani é engenheira agrônoma e mestre em Agricultura e Ambiente
e-mail: [email protected]

 

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