D. Luiz: participação na Primeira Guerra e declínio físico

O Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança, segundo filho da Princesa Isabel e do Conde d´Eu, desenvolveu uma ação política muito intensa no Brasil, entre fins de 1908, quando seu irmão primogênito renunciou aos seus eventuais direitos sucessórios à coroa do Brasil, até meados de 1914, quando teve início a grande conflagração que, à época, foi chamada a Grande Guerra – e que mais tarde, comparada à de 1939-45, mais modestamente passou a ser denominada Primeira Guerra Mundial.

Foi essa a fase de sua máxima irradiação pública. O que veio depois é uma triste pós-história, um crepúsculo, o declinar de uma existência.

Em resumo, em agosto de 1914, rebentou a Guerra. D. Luiz, sentindo-se obrigado, pelo atavismo de muitas gerações de militares, pelo senso do dever e pelos laços do sangue, a acorrer em defesa das nações aliadas – sem embargo de sua passada filiação ao exército austríaco e de sua intensa admiração pelo império germânico – alista-se no exército inglês e participa ativamente da fase inicial da guerra.

A essa altura, já estava casado com a Princesa Maria Pia de Bourbon-Sicílias e era pai de três filhos pequenos. Sua saúde, que nunca fora boa, ressentiu-se fortemente do frio e da umidade do rigoroso inverno de 1914-15, que suportou na ativa, como oficial de ligação, nos campos de batalha.

Depois de alguns meses de intensa atividade, a contragosto precisou se afastar da linha de combate a 15 de junho de 1915, atingido por grave doença de fundo reumático – que mais tarde se configurou como reumatismo ósseo e o reduziu à semiparalisia. Já em 22 de março anterior precisara interromper, devido ao agravamento de seu estado, o diário de guerra que até então conseguira redigir em meio aos combates e forçados deslocamentos. Os anos que se seguiram foram uma prolongada agonia que se estendeu até 26 de março de 1920, quando faleceu aos 42 anos de idade.

Esse período de declínio físico do Príncipe contribuiu bastante para a fixação, nos meios monarquistas brasileiros, da sua figura quase legendária com uma aura similar à de uma espécie de heroico martírio. Mesmo doente, ele continuou escrevendo regularmente para jornais europeus, e seus artigos, traduzidos para o português, eram publicados em jornais de todo o Brasil. Eram, geralmente, análises sobre o desenrolar da Guerra, e comentários e prognósticos políticos que hoje, com a perspectiva do tempo, se revelam muito lúcidos e adequados.

Embora doente e praticamente inválido, enquanto viveu sempre foi visto com inquietação pelas autoridades republicanas brasileiras. Em 1914, pouco antes da Guerra, candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, para ocupar a vaga deixada pelo Almirante Barão de Jaceguai. Recebeu expressivo número de sufrágios, inclusive o insuspeito voto do então presidente da Academia, Ruy Barbosa, mas não alcançou o número de votos necessário para ser eleito, porque lideranças republicanas se alarmaram com a candidatura e se empenharam para impedi-la.

É digno de nota que somente a 3 de setembro de 1920, alguns meses após sua morte, o Presidente Epitácio Pessoa tenha revogado incondicionalmente o decreto de banimento da Família Imperial ex-reinante, permitindo o retorno ao Brasil dos descendentes de D. Pedro II. Em outras palavras, morto D. Luiz, a República sentia-se mais segura.

Na realidade, já havia anos se arrastavam, no âmbito do Congresso brasileiro, projetos e contra-projetos referentes ao assunto, quase todos sendo recusados pela Família Imperial porque condicionavam a revogação da Lei do Banimento a una renúncia formal a quaisquer direitos dinásticos no Brasil. Mas somente após o falecimento de D. Luiz foi apresentado, e com grande celeridade recebeu aprovação, um projeto de revogação da Lei do Banimento sem qualquer referência a renúncia a direitos dinásticos.

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Armando Alexandre dos Santos é licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.

 

 

 

 

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