Dentro da “Semana em Defesa da Vida, dos Serviços Públicos, dos Direitos da Classe Trabalhadora e da Democracia”, promovida pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), a presidenta da entidade, a deputada estadual Professora Bebel (PT), para debater o tema “defesa do direito à educação”, reuniu na última quinta (18), em live, o filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella e a chefe de cozinha Janaína Rueda, que defende o envolvimento do alimento na educação de forma pedagógica. O debate, transmitido pelas redes sociais, reuniu diversos diretores da Apeoesp e especialista no tema educação, como o professor Celso Napolitano, presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo, que por quase duas horas reforçaram a importância da educação para a formação do cidadão e a necessidade de rever todo planejamento educacional em função da pandemia do coronavírus.
Abrindo o debate, a deputada Professora Bebel apresentou dados da Fundação Seade de que 700 mil estudantes da rede estadual de ensino do Estado de São Paulo estão abaixo da linha de pobreza, de acordo com a Fundação Seade, enquanto aproximadamente 2 milhões não estão participando das aulas à distância. Também citou ataques à educação, como a portaria que daria autonomia para nomear reitores nas universidades, o que seria um ataque a autonomia universitária, assim como a que revoga a cota para negros e indígenas e ressaltou o adiamento do Enem como uma grande vitória para evitar a ampliação de desigualdade nesse período de pandemia, mas que mesmo assim ela ocorrerá. “A desigualdade se acentua a cada momento ainda mais nesse período de pandemia”, enfatizou Bebel.
O filósofo Sérgio Cortella, por sua vez, destacou uma frase do educador Darci Ribeiro de que “a crise na educação no Brasil não é uma crise, mas é um projeto, ou seja, tem uma intencionalidade”, disse, ressaltando que há uma atualidade nesta frase do educador feita ainda na década de 70, ressaltando a importância a Semana promovida pela Apeoesp para debater o tema. Para ele, os que menos têm sofrem muito mais nesse período de pandemia, uma vez que quem tem condições financeiras acaba tem acesso à alimentação, à saúde e à educação. “Quem tem recursos, mesmo não podendo ir ao supermercado, leva o supermercado para sua casa”, frisou, mostrando as diferenças sociais que se acentuam com a pandemia.
Também disse acreditar que a pandemia deverá se estender e por isso, acredita que haverá necessidade de alterar o processo tradicional, inclusive revendo, por exemplo, o trabalho do docente e de avaliação terá que ser reavaliado. Diante desta nova realidade, Cortella defende que se deve trazer as comunidades para uma atividade consultiva de debater caminhos. “A inteligência coletiva tem que ser mais colocada em cena para não deixar a decisão para o gestor. Se fosse secretário de Educação de São Paulo nesse momento, certamente, não deixaria de ouvir quem está participando destas discussões pedagógicas. Espero que os gestores sejam capazes de humidade pedagógica e que se possa entender a gravidade e construir uma proposta que atende as necessidades”, falou.
Apesar do professor Celso Napolitano ressaltar que a Constituição garante a todos o direito a educação, em todos os seus níveis, a deputada Professora Bebel demonstrou muita preocupação com a ampliação da desigualdade nesta pandemia e após, uma vez que nem todos tem tido acesso ao ensino remoto. Para ela, a pandemia provocará a maior exclusão da história na educação, com os governos estaduais e o federal fazendo o maior enxugamento da história do país. “Fala, fique em casa, mas não dá condições”, critica.
Janaina Rueda enfatizou que a política pública passa por uma doença. “Já acreditei que era curável e já acreditei que era incurável. O problema é que o nosso país irá sofrer muito. Tenho conversado com muitos amigos cozinheiros pelo mundo e aqui sempre se empurrou com a barriga, se empurrou para baixo do tapete a corrupção, mas haverá um tempo que isso será escancarado e vamos ter que acordar para esse novo momento”, refletiu.
Para o professor Celso Napolitano, o grande problema é pensar que o ano letivo de 2020 tem que acabar em 2020, uma vez que todos estão tendo prejuízo, mesmo os que tem mais acesso à tecnologia. Como a tecnologias estão sendo utilizadas meio à força, o professor defende que há necessidade de ter uma coordenação efetiva e única sobre a educação, inclusive, e, por exemplo, atrasar em um semestre o ano letivo, mas entende que dificilmente isso será acatado, uma vez que promoverá prejuízos à educação privada, que hoje estão sob o comando de grandes grupos.
Disciplina da cozinha — Durante o debate, a chefe de cozinha Janaína Rueda destacou que a educação é a esperança do Brasil e do mundo. “A esperança só pode partir da educação. A chefe de cozinha ressaltou que nosso primeiro contato com a educação é através da alimentação. Um prato de comida tem todas as disciplinas, tem ciência, matemática, geografia….”, disse, defendendo que se deve, por exemplo, usar o período do recreio para ter uma aula de como se alimentar, inclusive viajar através de um alimento. “Estudei até a sétima série e tudo que sei, aprendi através do alimento”, acrescentou. A chefe de cozinha defende que dentro da escola pública, se tenha uma disciplina da cozinha do seu país para dar inclusive oportunidades de emprego. “O alimento deve ser um grande pilar para ajudar a sociedade. Deve se usar a verba não só para matar a fome, mas também resgatando pessoas para oportunidades”, defende.
Apeoesp: “Defesa do direito à educação” reúne especialistas
19 de junho de 2020