O afeto no toque

Plinio Montagner

 

Quem não gosta de um afetuoso abraço? Há abraços que são para o corpo e para a alma. São importantes quanto a saúde, e principalmente nos momentos do desânimo e dos tropeços da vida. Apesar disso, estão sendo repelidos como fossem uma doença contagiosa.

O contato físico, o sorriso, o elogio, a linguagem afetuosa, a presença, tudo são meios de declaração de simpatia e de comunicação da humanidade. A estimulação tátil é uma necessidade primária e universal para o desenvolvimento do ser humano saudável. Até de um passarinho.

A humanidade está vivendo uma angustiante fase de isolamento e de distanciamento social devido à pandemia que ora persiste no planeta. Agora o abraço ficou órfão de uma vez.

Afora o vírus, e voltando ao toque, qual o motivo que faz uma intimidade inocente seja tão complicada e rejeitada? Seriam os costumes, a ética, a educação familiar, os preceitos religiosos, a timidez, ou  um mero paradigma?

A bem da verdade a comunicação não precisa de toque algum. Algumas pessoas se aborrecerem, e são vários os motivos; um deles é que pode ser interpretado como sinal de permissão à licenciosidade ou um aceite afetivo.

O toque é um contato atencioso e gentil de discretíssima intimidade formal. Tomar as mãos, um beijo na face, um leve abraço, não devia ser considerado uma grosseria a ponto de molestar ninguém; pois não macula a inocência, não contamina e fazem muito bem à relação. O fato é que muitas pessoas, por vezes, não entendem se é um comportamento civilizado ou uma indelicadeza. Mas há de se considerar que mulher nenhuma se sente à vontade perante a deselegância e a civilidade.

Esse toque desinteressado foi o tema de um artigo abordado pela psicanalista Regina Navarro Lins:

“É natural do ser humano e dos animais aceitar carinhos, recompensas, elogios, serem tocados e tocar. Afetos reprimidos podem até fazer mal ao corpo e à mente”.

As relações entre os homens às vezes são estranhas. No dia a dia a dia eles se cumprimentam sempre meio à distância, e rapidamente, mas a regra é totalmente ignorada nas confraternizações, no esporte, nos momentos de grande emoção, como acontece nos campos de futebol na hora do gol. É aquele rebuliço. Pulam como crianças, jogam-se sobre os outros, se abraçam e se beijam. Depois do jogo, mal se olham e nem querem ver o replay.

Ashley Montagu, especialista americano em fisiologia e anatomia humana, afirma que a pele, sendo o maior órgão do corpo humano, sempre foi negligenciada. Décadas de estudos revelaram que experiência tátil afeta positivamente a cura de uma doença, o desenvolvimento do comportamento humano e o quanto a linguagem dos sentidos é capaz de ampliar a compreensão das pessoas e do mundo.

O corpo é o maior playground do universo, com mais de 600 mil pontos sensíveis na pele. Por isto os toques não deveriam ser rejeitados nem malvistos por serem meios naturais da linguagem corporal que envolve afeto de afeto de amizade e de relacionamento amoroso maior do que a licenciosidade.

José Ângelo Gaiarsa escreveu o prefácio do livro Uma Cama na Varanda, da escritora Regina Navarro Lins:  “Para todos os seres humanos o toque, a aproximação e a carícia são fundamentais à saúde, que por inibição e timidez, talvez, ninguém se toca o suficiente”.

O ser humano parece que tem duas faces: não se preocupa em ser perdulário na hora de tirar vantagens, de ser corrupto, de cometer indelicadezas, mas não se incomoda em ser parcimonioso na hora de demonstrar afetos.

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Plinio Montagner, professor aposentado

 

 

 

 

 

 

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