A juventude de 1932

Edson Rontani Junior

 

O dia 23 de maio é uma data que não ocorreu em vão. O Dia da Juventude Constitucionalista foi o estopim do que historicamente tornou-se conhecido por Revolução de 1932, na qual paulistas empunharam armas contra o governo de Getúlio Vargas exigindo uma nova constituição, uma vez que, aquela em vigor, havia sido promulgada em 1891. Estava obsoleta aos ares da República Nova.

Foi em 23 de maio de 1932 que a praça da República, na capital paulista, tornou-se cenário de um sangrento tiroteio que matou os jovens Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, que constituíram o icônico MMDC.

Não foram eles os únicos componentes da Juventude Constitucionalista. A Revolução Constitucionalista foi iniciada em 9 de julho e encerrada em 4 de outubro de 1932, com milhares de baixas de ambos os lados – e boa parte composta por jovens.

Voluntários como o piracicabano Natal de Meira Barros que fugiu por duas vezes da casa de seus pais – Josué Meira Barros e Bianca Buldrini de Barros – para se alistar em São Paulo como voluntário. Idade não tinha. Mas, em guerra, não se escolhe faixa etária. Foi baleado no pescoço durante uma patrulha na cidade de Cruzeiro, Vale do Paraíba, região norte de São Paulo. Morreu dias depois de hemorragia com apenas 17 anos de vida.

Jovens adolescentes participaram desta epopeia, deixando de lado a carreira universitária da então Escola Agrícola de Piracicaba (hoje Esalq/USP) para se alistarem como infantes, trocando livros pelo fuzil. Muitos dos que por aqui estavam matriculados acabaram se alistando na capital paulista de forma que não existem registros locais sobre este corpo de voluntariado.

Os jovens – corações palpitantes dos ideais constitucionalistas – estiveram presentes em todos os momentos da Revolução. Contudo, foi no calor do combate que o menino se mostrou homem, enfrentando com valentia um inimigo mais numeroso e bem preparado, as chuvas e as baixas temperaturas do inverno. Esses jovens não esmoreceram perante o medo e o perigo, mesmo que o sacrifício fosse o da própria vida.

Escoteiros na mais tenra idade seguiam a risca o lema da lealdade. Trabalhavam no almoxarifado, polindo armamentos, servindo refeições, auxiliando na confecção do fardamento… Aldo Chioratto era um escoteiro que entregava e recebia documentações ocupando o papel de mensageiro. Caminhava para a estação ferroviária da Cia. Mogiana e Paulista, no centro de Campinas, quando foi atingido por estilhaços de uma bomba disparada por um avião simpatizante das tropas federais. Faleceu aos nove anos de idade. É a única criança homenageada e sepultada no Mausoléu aos Heróis de 1932, na capital paulista.

Muitos da chamada Juventude Constitucionalista não apenas deixaram história como a contaram para as gerações posteriores. Um dos casos foi o “Zé Lamparina”. José dos Santos Marques era considerado o escoteiro mais antigo do Brasil. Atuou na Revolução de 1932 como estafeta, almoxarife nos hospitais e mensageiro pelas ruas de Campinas. Foi escoteiro por 87 anos. Faleceu no domingo dia das mães de 2016, aos 100 anos de idade.

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Edson Rontani Júnior, jornalista

 

 

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