O tempo e os mistérios

Plinio Montagner

Viver bem é o que todo o mundo quer, mas o bem maior, que é estar vivo, não deveria bastar? Em vez disso o homem teima em se desgastar e em sofrer por não conseguir desvendar o que não consegue nem lhe compete.
Quando alguma coisa não dá certo, um pedido é negado, uma oração não resolve, a doença vem, a morte leva, tudo isso faz parte da vida, e tudo passa, por bem ou por mal. É assim que funciona, é a sina da natureza imposta à criação.
E a vida segue, e o homem continuando sem saber como surgiu o Universo, por que tudo que nasce morre, desaparece e se transforma em pó.
Einstein afirmou que a ciência é essencialmente uma atividade religiosa em que a presença de Deus está na harmonia do Universo, e que tudo é determinado por forças que estão além de nosso controle. Isto vale para um inseto, para uma estrela, seres humanos e grãos de areia. Todos dançam.
Espinosa (séc. XVII), filósofo e racionalista holandês, Deus e o mundo material são indistinguíveis, e quanto melhor o homem compreender o funcionamento do Universo, mais se aproxima Dele.
A natureza não é inferior aos humanos. Quando a humanidade surgiu a Terra e tudo ao seu redor existiam há milhões de anos. Resistir a aceitar a derrota ou a predestinação só alastra sofrimentos.
Essa aflição provém do apego à ideia de que tudo que é bom deve melhorar, ou durar para sempre. Mas na natureza nada foi feito para durar, tudo acaba e se transforma. Os humanos não precisam experimentar tudo, saber tudo, conhecer todos os lugares, ouvir todas as sinfonias, saltar de paraquedas, abraçar o mundo.
Se a finitude é certa, não seria uma decisão inteligente deixar de curtir a vida, rejeitar convites, não saborear o vinho preferido, vestir as melhores roupas e amar, e ficar a filosofar sobre o que não está ao alcance do homem.
Ficar velho é natural, e tentar reconquistar a beleza custa caro, e pode não dar certo – piorar o que estava mais ou menos.
Cicatrizes são formas de evidenciar experiências e conhecimentos de cada um. Melhorar o desempenho, ficar bonito, serve para esnobar.
“Quem tem muito dentro precisa ter pouco fora”.]

Plínio Montagner, professor aposentado

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