Coronavírus: o caos que despertou nossos medos

Alessandra Cerri

O Brasil assim como outros países está enfrentando a realidade do Coronavírus. Ainda não sabemos a extensão dos estragos que o vírus fará por aqui, mas já podemos perceber que o vírus em si não é tão perigoso quanto o estresse emocional que estamos vivenciando antes mesmo do pior período chegar.
Um vírus minúsculo, mas com forte poder de destruição está nos levando a entrar em contato com nossos maiores medos: medo de não termos controle, de adoecermos ou perdemos pessoas que amamos, medo de faltar alimento, medo da solidão… enfim, nossos medos mais instintivos e primitivos estão nos atormentando.
Esse caos instaurado pelo Coronavírus (e pela histeria das pessoas) está nos obrigando a fazer algumas reflexões profundas sobre nossa realidade enquanto seres humanos. Trabalhamos tanto (não tendo tempo para coisas simples ou para pessoas que amamos), queremos acumular tanto e, ironicamente, agora estamos com tempo e não sabemos o que fazer direito com ele e pior: estamos com tempo mas, sem poder, muitas vezes, estar com pessoas que amamos ou gastando o dinheiro que acumulamos. Grande ironia da vida essa….
Estamos percebendo de uma maneira assustadora que a humanidade é um enorme sistema e que o que um órgão (e esse órgão pode ser um país) faz, ainda que a quilômetros de distância, tem um impacto direto em nossa vida. Consequentemente, devemos entender que o que fazemos também tem um impacto na vida de outros. Enfim, percebemos que não vivemos alienados numa bolha.
Também estamos percebendo que embora vivamos para os outros e tenhamos uma necessidade louca de mostrar e exibir nossos feitos, temos uma fragilidade imensa ao estarmos em contato com nós mesmos, nossos pensamentos muitas vezes nos assustam, nos causam insegurança.
Sempre acreditei e continuo acreditando que o caos é muito necessário para as várias formas de evolução: seja ela, ambiental, empresarial ou pessoal então acredito que a humanidade esteja passando por esse caos, por que talvez essa seja a única maneira que o universo tenha encontrado de estabelecer o equilíbrio, perdido com a arrogância humana em se achar Deus, em se achar no controle de tudo.
Perdemos o equilíbrio quando achamos que o dinheiro e o poder compram tudo e todos, perdemos o equilíbrio quando achamos que somos melhores em função de títulos e cargos, perdemos o equilíbrio quando nos negamos a enxergar os constantes avisos de ameaça da natureza, perdemos o equilíbrio quando nos negamos a aceitar o envelhecimento (através de inúmeros procedimentos e medicamentos) e a finitude da vida.
É claro que estamos todos assustados com os últimos acontecimentos, mas que saibamos aproveitar esse período de quarentena para entrarmos em contato com nós mesmos; que saibamos refletir e diferenciar as reais necessidades da raça humana frente aos desejos insaciáveis tão tentadores numa sociedade voltada para o exterior e para o consumo; que saibamos entender que a felicidade pode estar exatamente na simplicidade da vida: no simples fato de estarmos com saúde e ao lado dos que amamos (agora enfim, conseguimos entender o valor de um abraço).
Somos seres acomodados, não gostamos de sair da nossa zona de conforto e muito menos abrir mão de nosso bem estar ou, perder nossa sensação de controle. No entanto, estamos vivendo uma situação momentânea de ameaça (que passará tenho certeza), mas que está nos obrigando a fazer certas mudanças. Talvez a maior delas seja aceitarmos que o coletivo é a única saída para a evolução humana.
Finalizo com a sábia frase de Albert Einstein “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Ninguém passa ileso por um caos; que saibamos então entender as necessidades de mudança e as prioridades para evolução da raça humana. Até a próxima, namastê!
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Alessandra Cerri é sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba (CLAP); mestre em Educação Física, pós-graduada em Neurociência e pós-graduada em Psicossomática.

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