Após a nossa morte, necessitamos remorrer

Álvaro Vargas

Sabemos que o somos um espírito eterno e a morte biológica do corpo físico permite a libertação de nossa alma que regressa para a pátria espiritual cumprindo um programa evolutivo que foi delineado no mundo espiritual antes de nossa reencarnação. Com referência a esse regresso o espírito Dr. Bezerra de Menezes (Divaldo Franco, Nas fronteiras da Loucura) chama a atenção para a importância de nos preparamos melhor para o processo de desencarnação, tendo inclusive cunhando a expressão “remorrer”.  Dr. Bezerra explica que a morte do corpo não desobriga o Espírito de permanecer atado ao mesmo, em perturbação breve ou longa. As impressões que se demoram como exemplo os acidentes fatais, aturdem o ser espiritual que oscila entre as duas situações vibratórias (plano físico e espiritual), sem fixar-se numa ou noutra. Chamado pelos afetos da retaguarda condensa fluidos que deveriam diluir-se, sofrendo, porque já se encontrando no mundo espiritual, tenta libertar-se dessas cargas aflingentes. De fato, morrer pode ser fácil, mas o difícil é a desencarnação para aqueles que não souberam se preparar de forma adequada ou não respeitaram as leis morais da vida.

Nosso perispírito está ligado molécula a molécula ao corpo somático e a “libertação” apenas acontece sem estresse para aqueles que souberam se conduzir com dignidade e ética durante a jornada terrena. Os que se desviam dos valores morais geralmente necessitam de um tempo maior para se libertar, podendo esse processo ser extremamente doloroso para o desencarnante que permanece junto aos restos mortais por tempo suficiente para que se complete o processo de decomposição do corpo físico, sentindo o corpo espiritual todos os efeitos da transformação biológica que ocorrem na vestimenta carnal. Para os que passaram toda a existência muito presos a vida material, é comum inclusive que sintam as sensações de fome, frio e dor, tornando a desencarnação nesse caso um verdadeiro tormento. Lamentavelmente este é o cenário atual para a maior parte de nossa humanidade que continua regressando para o mundo espiritual em condições morais muito precárias. Esta situação poderia ser diferente caso tivesse ocorrido uma melhor orientação espiritual de nossa sociedade, mas como maioria das religiões não conseguiram evoluir ao longo dos séculos, continuando a apresentar conceitos filosóficos que agridem a lógica e o bom senso (fé cega e fanatizada), a consequência tem sido o afastamento dos homens em relação a Deus e o desinteresse de maior parte da população a respeito da vida após a vida.

O Espiritismo esclarece que já tivemos várias reencarnações e nesta existência assumimos no mundo espiritual várias tarefas a serem realizadas, como as provas que temos de enfrentar e as reparações aos espíritos que porventura tenhamos prejudicado em outras vidas. Por isto esquecemos temporariamente as reencarnações passadas, o que permite o reencontro com antigos inimigos visando dissipar a animosidade existente. O sucesso nesse empreendimento irá depender de nosso empenho em seguir os ensinamentos de Jesus como forma de nos fortalecer moralmente na vivência dos desafios em família e na sociedade. Caso esteja programada uma fatalidade através de enfermidades ou acidentes, estes acontecimentos poderão ocorrer, ou não, dependendo de nosso comportamento. O Espiritismo sugere que façamos uma autocrítica construtiva, analisando os nossos defeitos com o objetivo de melhorar o nosso padrão moral e intelectual, aprendendo a utilizar de forma sensata os bens materiais que a vida material oferece, sem perder de vista o propósito de nossa experiência aqui na Terra conforme Jesus nos ensinou: … Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mateus, 6:33), de forma que independentemente do tipo de morte, possamos nos desprender com maior facilidade do corpo físico (remorrer) durante a desencarnação.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

 

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