Participação no comércio internacional

Vitor Pires Vencovsky

Apesar dos grandes volumes exportados de commodities agrícolas e minerais, a participação do país no comércio internacional é insignificante. Também chama a atenção o fato das trocas comerciais brasileiras privilegiarem produtos primários, de baixo valor agregado e alto volume, e desconsiderarem produtos mais elaborados e de alto valor agregado. É uma realidade muito particular quando comparada ao verificado em grande parte dos países que participam do comércio global.

Segundo informações do World Integrated Trade Solution (WITS), elaborado pelo Banco Mundial, as trocas comerciais totais totalizaram 38 trilhões de dólares em 2018. O Brasil, com participação de 1,16%, ocupou a 24a posição na classificação que conta com aproximadamente 200 países. Os 10 maiores exportadores e importadores representaram 50% do total desse montante e China e EUA, que ocuparam as duas primeiras posições, representaram 22%.

No comércio internacional, predominam as trocas de produtos de alto valor agregado. Os quatro grupos de produtos estão assim organizados na balança comercial global: bens de capital, com 32,8% do total das transações; bens de consumo, com 30,9%; bens intermediários, com 20,8%; e matéria prima, com 11,7%. No caso da China, as importações e exportações de bens de capital representaram, respectivamente, 40,1% e 45,9% da balança comercial desse país. Enquanto isso, as matérias primas representaram 25% e 1,7%.

Os EUA e a Alemanha seguem nessa mesma lógica, exportando e importando produtos de maior valor agregado. Em 2018, 33,7% do comércio dos EUA foi de bens de capital e 32,3% de bens de consumo. A Alemanha, 35,6% foi de bens de capital e 34,1% de bens de consumo. A participação do Brasil no comércio internacional segue em outra direção, pois privilegia a exportação de matéria prima (48,8% do total da balança comercial brasileira) e a importação de bens de capital e intermediário (64,1% do total).

Ao considerar apenas a exportação de matéria prima, o país ocupa a 5a colocação, com 125 bilhões de dólares em 2018, atrás da Arábia Saudita, Rússia, EUA e Austrália. China, EUA, Japão, Holanda e Alemanha são os maiores importadores de matéria prima, o que significa que possuem indústrias para a produção de produtos de maior valor agregado. Nessa classificação, o Brasil ocupa a 27a posição com 0,6% do total das importações mundiais de matéria prima.

A realidade do comércio internacional apresentada acima indica que os brasileiros ainda não entenderam que exportar commodities não é a melhor opção. A presença de produtos mais elaborados na balança comercial é a regra praticada por grande parte dos países. E isso tem uma explicação. Exportar conhecimento, tecnologia e patentes tem muito mais valor, e ajuda a justificar os trabalhos realizados por universidades e centros de pesquisas. De uma forma geral, os melhores salários e cargos estão em atividades realizadas o mais distante da natureza, ou seja, nas que promovem a artificialização da natureza. É importante e urgente, portanto, repensar a participação do país na divisão internacional do trabalho.

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Vitor Pires Vencovsky, presidente da Academia Piracicabana de Letras – [email protected]

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