Adelino Francisco de Oliveira
Talvez o debate mais importante dos dias atuais seja sobre a questão da sustentabilidade social e ambiental. As sociedades modernas enfrentam o desafio de equacionar progresso científico-tecnológico com preservação do meio ambiente. O tema da ecologia tornou-se central. O que se coloca em cheque é a própria sobrevivência da comunidade humana e do planeta, em sentido amplo. O interessante é que a humanidade dispõe de informações fundamentais para fazer a transição ecológica, transformando os riscos ambientais em oportunidades, alavancando a sustentabilidade.
A crise ecológica aparece de várias maneiras, através dos graves problemas que as sociedades vivem. As desigualdades sociais, que geram o aumento expressivo e perverso da pobreza, retirando as possibilidades de vida para bilhões de pessoas, revela a trágica crise no âmbito da ecologia social. O desmatamento de florestas inteiras, destruindo a flora; a poluição do ar, rios e mares; a contaminação da terra, com a utilização desmedida de agrotóxicos; o extermínio de animais, provocando a morte e extinção da fauna são elementos de uma severa crise na esfera da ecologia ambiental.
É preciso construir uma outra maneira de se pensar a vida e as relações com a natureza. A mentalidade ecológica deve ser cultivada desde a infância, no berço familiar, avançando para as primeiras experiências escolares. O tema ecológico deve assumir uma perspectiva transversal, tornando-se eixo central no processo de formação humana. A ecologia mental representa o pensar ecológico, compreendendo que não existe desenvolvimento real sem preservação ambiental.
Da ecologia mental desdobra-se a ecologia integral ou ecologia profunda, que consiste na plena compreensão de que há um vínculo estreito e inseparável, uma relação de complementariedade e dependência entre vida humana e meio ambiente. A ecologia integral representa a concepção de que o humano também é natureza. Não há uma natureza separada e apartada do humano. Tudo está integrado – humanidade, fauna e flora –, em uma complexidade rica, pulsante, diversa, plural e aberta.
Toda abordagem sobre o desenvolvimento urbano – social e ambiental – deve estar ancorada em uma visão de transição ecológica, assumindo a ecologia integral como princípio fundamental. A transição ecológica, a partir do critério verde de sustentabilidade ambiental, pensando a longo prazo, direciona as ações, os avanços tecnológicos, as inovações, de maneira a projetar um futuro economicamente viável – em uma sociedade includente, atenta aos direitos humanos – e ecologicamente sustentável. Implementar práticas voltadas à preservação do planeta representa também respeitar o direito ambiental das futuras gerações.
O movimento da transição ecológica deve começar no contexto dos municípios, a partir de políticas públicas locais, que sejam capazes de dinamizar uma nova concepção de progresso e desenvolvimento. É preciso construir uma agenda local estratégica, pautada na transição ecológica, reconstruindo a cidade com vistas a um futuro de pleno desenvolvimento, preservando o meio ambiente e superando a pobreza.
A municipalidade deve se constituir como o lugar privilegiado do debate ecológico, formando os cidadãos para um outro modelo de sociedade. No município a transição ecológica deve demarcar toda a perspectiva cultural, com formação teórica, mas, sobretudo, com práticas de sustentabilidade. É o pensar e o agir ecologicamente. Projetos que privilegiem a expansão do verde nas áreas urbanas e a relação com os animais devem ser celebrados, por gerarem sustentabilidade e qualidade de vida. Mãos à obra, há uma cidade a se reconstruir tendo como paradigma a ecologia profunda.
Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba; Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; [email protected]