A (perigosa) rebelião de policiais e políticos

É preocupante a noticiada pressão em 12 estados pelo reajuste dos salários de policiais militares. A classe realmente precisa de urgente revisão tanto de salários quanto da política que os estabelece. Mas, quando isso se torna luta política e mobiliza forças extra-caserna, pode gerar resultados indesejáveis tanto para a classe quanto à sociedade. Não podemos permitir que aproveitadores ideológicos, sejam contrários ou favoráveis, coloquem lenha na fogueira e, em vez de avanços, o resultado seja apenas o voto que eles objetivam. Os governos estaduais, legalmente empregadores dos PMs, precisam ser sensíveis às especificidades do setor e supri-lo com insumos e salários compatíveis, coisa que não têm ocorrido e motiva as queixas espalhadas por todas as unidades da federação. Os políticos, mesmo “democráticos” e até os com bons propósitos, não podem ignorar as limitações de ordem funcional e disciplinar daqueles a quem pretendem emprestar seu apoio e força política. Não é “garantindo” greves legalmente proibidas ou forçando a aprovação de reajustes salariais impossíveis de serem cumpridos, que estarão ajudando aos policiais e à comunidade a quem estes prestam segurança.

O episódio da escavadeira, protagonizado no Ceará pelo senador Cid Gomes, apesar de ser apenas mais um em tantos momentos delicados em que aquele político já se meteu em sua carreira, deve servir de alerta a todos não puxar ou empurrar as cordas além de sua capacidade. Se tratores fossem suficientes para resolver conflitos, as forças de segurança certamente os estariam utilizando no lugar dos “caveirões”, blindados, armas, escudos e outros equipamentos nas operações em morros, favelas e demais áreas conflagradas. Cada um deve se manter no seu quadrado, para evitar males maiores. Está na hora de os estados-empregadores buscarem solução ao grande passivo social-trabalhista que tem com os policiais. Os políticos devem ajudar e tomar muito cuidado para que sua ajuda não se converta em dano. E o governo federal tem o dever de participar – ou melhor ainda – pilotar da melhor forma a busca das soluções, mesmo que, para isso, tenha até de aportar recursos.

Chegamos a esse quadro devido ao caráter imediatista e à falta de continuidade de programas e políticas dos diferentes governos. Mas não devemos perder de vista que a greve é  instituto indisponível ao militar pois ele é o ultimo recurso da sociedade, até para um momento em que todos os demais entes estiverem exercendo o seu discutível direito de greve. As entidades representativas do setor sabem do seu limite de ação e de intransigência. Têm, inclusive, inúmeros exemplos do caos que se estabelece quando o marco é ultrapassado e chegam morrer tanto policiais quanto cidadãos que deixam de ter a sua proteção.

Os políticos que atuam no setor sabem das implicações e, por isso, não devem ousar, sob pena de ajudarem na produção do impasse cujas consequências são imprevisíveis.

 

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo: e-mail: [email protected]

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