Até quando, Catilina? Até quando?

José Machado

 

O atual Presidente da República do nosso país desconhece as mais elementares regras que compõem a liturgia deste cargo. Ou, se as conhece, ignora-as solenemente, num evidente deboche à sociedade.

Não é de hoje que, no afã de se autopromover e de estimular a sanha virulenta e preconceituosa dos seus fanáticos seguidores, o mais alto mandatário do País ofende a Nação com gracejos inapropriados, seja pelo mau gosto, seja pelo que representa de ofensa pessoal.

Agora mesmo, ao se referir à jornalista Patrícia Campos Mello, autora de reportagens sobre o disparo em massa de fake news no WhatsApp para favorecer exatamente o ocupante do Planalto, ele a ofende grosseiramente, e por extensão toda a Imprensa, todas as mulheres, toda sociedade enfim, fazendo um trocadilho de cunho sexual. O trocadilho é tão grosseiro, tão vil, tão baixo, que não cabe reproduzir aqui.

Esses insultos vêm se repetindo quase diariamente ao longo do mandato do Presidente Jair Bolsonaro, tipificando claramente a quebra de decoro. Para muitos brasileiros, infelizmente, esses insultos rasteiros do Presidente da República, típicos de botequins de quinta categoria, soam como característicos de um homem espontâneo, popular, que fala o que lhe vem na telha, e portanto, são merecedores de condescendência e até de admiração. Pasmem!

Alguns, e até muitos, podem considerar essa apreciação crítica sobre o Presidente como algo proveniente de uma pessoa de esquerda, e torcerem o nariz. Nada mais natural nos dias de hoje, nos quais imperam a belicosidade, o ódio e a intolerância.

Entretanto, era de se esperar que o conservadorismo que impregna a sociedade, tão cioso das tradições e dos bons costumes, tomasse posição e manifestasse sua inconformidade com o comportamento impróprio do mandatário maior do país.

Há notícias de que deputadas federais e senadoras se mobilizam na Câmara e no Senado para ingressarem com pedido de impeachment de Bolsonaro. É certo que essa iniciativa não prosperará e talvez nem repercuta muito, dado que a chamada mídia corporativa não tem interesse em desalojar Bolsonaro do poder, pois ele tem sido útil, por ora, aos propósitos reformistas do mercado. A iniciativa das parlamentares, contudo, é válida como denúncia, a demonstrar que a resistência democrática segue sendo construída, dia-a-dia, passo a passo.

“Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós? A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?”

Fecha o pano.

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