Milícias, facções e outros criminosos

Dirceu Gonçalves

 

A presença das milícias – grupos paramilitares ilegais que subjugam a população e desafiam as autoridades – em 23 estados e no Distrito Federal não chega a ser novidade. É o resultado de anos a fio de negligência e ausência do Estado em vastas áreas do território e – pior que isso – da conivência de governantes politiqueiros e temerários que criaram todas as dificuldades para as políticas cumprirem suas missões e em troca disso obtiveram ou pelo menos esperavam colher votos que os mantivesse no poder. É bom lembrar que a formação e até o incentivo de grupos paramilitares fazem parte do ideário dos homens e mulheres que estiveram no poder nas últimas décadas e com essa ação criminosa pretendiam impor seus desejos, mesmo que vilipendiando a democracia e o estado de direito. Além das milícias, a sociedade também é refém do crime organizado das facções que traficam drogas, assaltam (pedestres, condomínios, cargas, bancos e até o Banco Central) e de grupos que, travestidos de movimentos sociais, espalharam o terror e cometeram incontáveis crimes no campo e na cidade.

A iniciativa do jornal “O Estado de S. Paulo” de trazer o assunto à luz é importante porque suscita a discussão dos segmentos sociais. Mas é bom lembrar que o sucateamento da sociedade brasileira é coisa antiga. No passado pontificou o jogo-do-bicho, depois o trafico de drogas e agora as facções criminosas e milícias que ampliaram sua atividade e, na ausência do Estado, passaram a controlar parte do mercado imobiliário, distribuição de gás, TV a cabo clandestina, segurança pessoal e patrimonial (que se não for contratada ataca o negócio) e outras atividades. Nas suas diferentes conformações, o crime organizado domina principalmente a população pobre, resolvendo os seus problemas – contas de luz, água, telefone, dentista, médico, remédios – e serviços que o Estado tem a obrigação de oferecer mas não cumpre. Dessa forma, é lógico que os esquemas criminosos acabam por influenciar nas eleições e, evidentemente, levando seus representantes às casas legislativas e até aos governos.

O atual estado de insegurança vivido em decorrência de milícias, facções criminosas e outros fora-da-lei é resultado direto da negligência do Estado e da ação dos fingidos políticos que chegaram ao poder e ao Legislativo com a túnica de democratas mas, até por suas origens e convicções, queriam outras coisas e até as chegaram conseguir em parte. A Operação Lava Jato é prova disso e, por essa razão, sofre seguidos ataques e tentativas de desmonte.

Infelizmente, em vez da prometida democracia, o que foi dado ao povo brasileiro é uma sociedade perigosa e injusta. As autoridades de hoje – e as que vierem no futuro – terão muito trabalho para o restabelecimento da salubridade. Medidas enérgicas precisam ser adotadas para que a transgressão das leis e da honestidade deixe de ser vantajosa e de enriquecer aqueles que subjugam a população, sejam eles milicianos, quadrilheiros, membros de facções e, até mesmo, políticos e agentes públicos.

É preciso restabelecer e disseminar o sentimento de que o crime não compensa…

 

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Aspomil  (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo); e-mail: [email protected]

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