
O Cultura de Quilombo encerra sua programação anual neste domingo (07), a partir das 13h, no Engenho Central, com a presença do historiador, professor e escritor Luiz Antonio Simas, uma das principais vozes da cultura popular brasileira. A participação integra a Gira Reflexiva, espaço de debate, escuta e pensamento crítico criado pelo coletivo Quilombola Comunidade & Samba.
Com mais de 25 anos de atuação, o Quilombola Comunidade & Samba consolidou-se como um dos principais movimentos culturais da cidade, mantendo o samba como ferramenta de formação, identidade, mobilização e fortalecimento dos territórios periféricos. Em 2023, o grupo inaugurou o projeto Cultura de Quilombo, ampliando sua atuação em bairros e comunidades e fortalecendo vínculos por meio de ações descentralizadas.
A presença de Simas na Gira Reflexiva simboliza, para o coletivo, a força dos “arquivos vivos” da cultura brasileira dos saberes de matriz africana às práticas populares das ruas, do carnaval às rodas de samba.
Yaísa Domingues, mestranda em Geografia e responsável pela condução das Giras Reflexivas, destaca o impacto do encontro:
“Simas provoca deslocamentos e abre conexões com outros saberes. A Gira se fortalece e se ramifica a partir desse diálogo. Não é só uma roda de samba é pensar e propor a partir do nosso chão”.
As obras do autor, que abordam samba, carnaval, religiosidades afro-brasileiras, futebol e filosofia popular, já pautam debates sobre formas de viver e resistir nas cidades. No Cultura de Quilombo, esses referenciais dialogam também com a escritora, Carolina Maria de Jesus, inspiração constante do projeto.
Yaísa reforça ainda que “Assim como Carolina transformava a cidade em escrita e denúncia, o Cultura de Quilombo transforma sua circulação pelos bairros em escuta, troca e pertencimento. A Gira nos permite enxergar o território com os olhos de quem o habita”.
Para Paulo César Ferraz (Teda), uma das lideranças do Quilombola Comunidade & Samba, a presença de Simas fortalece coletivos periféricos que têm reorganizado redes de convivência e criação. “O encontro amplia a possibilidade de pensar políticas culturais que brotam do afeto — das cozinhas comunitárias, das oralidades, das festas populares. São políticas que sempre estiveram no território, mesmo quando invisibilizadas”.
O evento também marca o primeiro deslocamento externo da Cozinha Quilombola, coordenada pela chef Karime Zarratim, que vem expandindo práticas culinárias de memória e ancestralidade. No domingo, a partir das 12h, será servida a Feijoada Quilombola; os convites estarão disponíveis a partir de sábado (06), no Engenho Central.
“A Cozinha Quilombola reforça a comida como linguagem política e forma de transmissão de saberes”, afirma Karime.
Outro destaque é a parceria com a Sociedade Beneficente Treze de Maio, território negro histórico em Piracicaba e pilar da memória afro-piracicabana. A instituição e o Cultura de Quilombo planejam novas ações conjuntas para 2026, incluindo oficinas, formações e eventos comunitários.
A vinda de Luiz Antonio Simas é resultado da articulação entre o Quilombola Comunidade & Samba, a 14ª edição do Festival CURAU, a Sociedade Beneficente Treze de Maio e o SESC Piracicaba, fortalecendo redes entre coletivos culturais, instituições negras e equipamentos da cidade.
Para Teda, essa costura sintetiza o sentido do projeto: “Cultura de Quilombo é legado, mas também invenção. Somos herdeiros de quem construiu a cidade sem ter seus nomes nas placas das ruas. Seguimos abrindo caminhos para que as próximas gerações não precisem pedir passagem”.
SERVIÇO
Gira Reflexiva com Luiz Antonio Simas – Cultura de Quilombo, domingo, 7, no Engenho Central. Horário: Feijoada Quilombola às 12h; atividade com Simas a partir das 13h. Convites da Feijoada disponíveis no local a partir de sábado, 6