Achados do Arquivo – Trinta anos sem Cobrinha, o seresteiro que fez de Piracicaba sua canção

Fotos da solenidade de inauguração da herma de Cobrinha na Praça da Saudade, em 26 de agosto de 1999

 

Série ‘Achados do Arquivo’ relembra diversas homenagens, em vida e póstuma, feitas pela Câmara ao seresteiro que deu voz à música que se tornaria o hino da cidade

 

 

Nesta segunda-feira (3), completam-se 30 anos da morte de Victório Ângelo Cobra, o Cobrinha, figura lendária da seresta piracicabana e símbolo de uma época em que a cidade se deixava embalar pelas canções que ecoavam nas noites à beira do rio. Mais do que um músico, ele foi reconhecido como “embaixador de Piracicaba”, levando a alma e a melodia de sua terra a cada verso e dedilhado de violão.

Homenagens a Cobrinha, realizadas na e pela Câmara Municipal de Piracicaba, são o destaque da série Achados do Arquivo, parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, do Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social.

Sua trajetória, marcada pela simplicidade e pela devoção à música, inspirou homenagens que se tornaram parte da história da cidade — entre elas, a instalação de uma herma na Praça da Saudade, em frente ao Cemitério da Saudade, por meio do Projeto de Lei nº 224/1998, de autoria do então vereador Moacir Nazareno Monteiro. A justificativa da proposta resgata o vínculo afetivo do artista com o bairro onde viveu: “Cobrinha sempre residiu no Bairro Alto, que faz divisa com a referida praça”, diz o texto.

O projeto resultou na Lei nº 4.628, de 6 de abril de 1999, sancionada pelo prefeito Humberto de Campos, que oficializou a herma do seresteiro, inaugurada em 26 de agosto de 1999, em uma solenidade que foi registrada pela Câmara, e essas imagens estão disponíveis no Acervo Histórico da Casa. Desde então, o busto de Cobrinha repousa na Praça da Saudade como um marco à memória de quem fez da voz e do violão instrumentos de afeto e identidade cultural.

Nascido em 1908, Victório Ângelo Cobra cresceu em meio à musicalidade familiar — cantava com os irmãos no Grupo Cobra Choro, difundindo as modinhas e serestas que atravessavam gerações. Ao longo de sua vida, tornou-se figura reconhecida nacionalmente. O seu trabalho é destacado por ter sido um dos primeiros cantores a gravar músicas sertanejas, com ‘Minha Terra’, composta em parceria com Mariano da Silva, e ser reconhecido como a “voz icônica” da música Piracicaba, de Newton de Almeida Melo, que viria se tornar o hino oficial da cidade.

Cobrinha personificava a tradição da seresta, arte do encontro entre amigos, violas e poesia. Seu repertório celebrava o amor, a saudade e o cotidiano, e suas apresentações mantinham viva uma estética musical que já se tornava rara nos idos do início da década de 1990.

Uma voz no plenário da Câmara – Quatro anos antes de sua morte, em 22 de agosto de 1991, Cobrinha foi homenageado na Câmara Municipal de Piracicaba, durante a leitura de um voto de congratulações, tramitado na forma do Requerimento nº 420/1991 e apresentado pelo então presidente da Casa, vereador Rogério Vidal, por ocasião dos 83 anos do seresteiro, que seria celebrado três dias depois. A homenagem foi registrada em vídeo pela Casa, no início das produções das atas eletrônicas do Legislativo municipal.

O plenário, em seu formato mais antigo e revestido de mármore branco, recebeu o artista sob aplausos de vereadores e do público. Vidal destacou a importância de Cobrinha. “Não é a primeira homenagem que esta Casa faz, e nem será a última. O Cobrinha é considerado um embaixador de Piracicaba no Brasil. Gravou ‘Minha Terra’ em 1939 e recebeu o disco de ouro em 1989. E é com muito orgulho que esta Casa lhe presta homenagem”, disse.

Naquela noite, o jornalista Geraldo Nunes usou a tribuna para definir o homenageado em tom poético. “Enquanto houver ar, enquanto as estrelas cintilarem no firmamento, haverá sempre um seresteiro, acompanhado do seu violão, cantando melodias nas ruas das cidades.”

O plenário se transformou em palco de seresta. Cobrinha cantou “Minha Terra” e “Chuá Chuá”, acompanhado por Jaime Cúrcio (bandolim) e Zé Moreno (violão). Outros nomes da música piracicabana — Toninho Martini, Zezé Adamoli, Pedro Alexandrino, Florivaldo de Almeida Leme (Chicoca) e Antônio Carlos Fioravante (Bolão) — uniram-se à homenagem, encerrada com o Hino de Piracicaba entoado pelo próprio Cobrinha.

Trinta anos depois de sua partida, o eco das serenatas de Victório Ângelo Cobra ainda percorre as ruas de Piracicaba. Sua herma na Praça da Saudade não é apenas uma escultura de bronze, mas um símbolo da memória afetiva de uma cidade que reconhece na música uma forma de eternidade. Entre partituras e lembranças, permanece viva a imagem do homem simples, de voz terna e chapéu na cabeça, que transformou noites silenciosas em poesia cantada.

ACHADOS DO ARQUIVO – A série “Achados do Arquivo” é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, com o objetivo de divulgar o acervo que está sob a guarda do Legislativo. As matérias são publicadas às sextas-feiras.

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