Elda Nympha Cobra Silveira
Quando nos lembramos de certos fatos acontecidos aqui em Piracicaba nos dói na alma pensar que certos prédios foram extintos da paisagem piracicabana. Por exemplo: por que derrubaram o Teatro Santo Estevão? Será que na época era uma necessidade premente? Ele não poderia ter sido encaixado dentro da Praça José Bonifácio como se faz em muitas cidades ou metrópoles da Europa? Imaginem como ficaria esse teatro restaurado e incrustado na Praça da Catedral? Só enriqueceria o lugar, dando-lhe um toque cultural e histórico.
Ouvia meu pai contar que Procópio Ferreira se apresentou aqui com a peça “Deus lhe pague”, Tônia Carrero e Paulo Autran encenaram “Entre quatro paredes”, Isaurinha Garcia também veio para cá e tantos outros artistas consagrados. Quantos teatros da Europa são verdadeiras obras de arte, como o Scala de Milão, o Ópera de Paris. Ninguém pode negar que os quatro teatros mais significativos da América do Sul: Teatro Colón em Buenos Aires, o Teatro Municipal no Rio de Janeiro, inaugurado em 1909, o Teatro Municipal de São Paulo, aberto dois anos depois o Teatro Amazonas de Manaus, ficaram uma verdadeira maravilha depois de reformados.
Lembrem da Capela do Bairro Monte Alegre, que está lá para satisfação de todos os moradores, perpetuando as pinturas do pintor Alfredo Volpi, da linda Igreja Sagrado Coração de Jesus, os Frades, como é chamada, por ser da congregação dos frades capuchinhos, que é decorada com afrescos magníficos.
O Teatro de São João da Boa Vista é uma graça de teatro. Ao vê-lo lembrei-me do nosso extinto Teatro Santo Estevão. Por que é que lá deixaram o deles e aqui não?
Ele também está numa praça, mas o adequaram para aquele espaço.
Hoje temos o teatro do Engenho construído em uma das partes do Engenho Central, e o Teatro Dr. Losso Netto remodelado, mas, mesmo assim, o Santo Estevão, poderia ainda existir, isso não invalidaria nenhuma obra moderna. Temos o Teatro São José, que foi propriedade do Clube Coronel Barbosa, usado hoje como clube social, que faz parte do nosso centro da cidade. A residência do Presidente do Brasil, Prudente de Moraes é histórica e singular e muito bem usada pelos amantes da cultura.
Devemos preservar as nossas memórias e tomarmos cuidado para não cometermos os mesmos erros que o tempo só amplia e valoriza. Isso não é saudosismo, mas é dignificar aquilo que o passado nos legou. Pode ser que os jovens não tenham afinidade com esses assuntos, porque não tiveram oportunidade de conhecer esses monumentos do século passado em nossa cidade, porque têm a mente voltada para o futuro, para a arquitetura mais avançada, mas sem valorizar o passado não teremos base para o futuro.
Quem não se extasia vendo o Coliseu, o Parthenon, os prédios de Veneza e por aí a fora? Quem estudou um pouco de história entende o que estou dizendo.
É a raiz, o começo do desenvolvimento da engenharia e da nossa civilização. Os prédios estão impregnados de história, feitos heróicos, amores clandestinos, de sons de vozes, de instrumentos, de lirismo e de antigas presenças ilustres, vestidas com elegância, sentadas em seus camarotes. Os livros nos trouxeram informações sobre histórias passadas nesses ambientes, e o cinema e a televisão moldaram nossas mentes para a concretização dessas cenas, apenas criadas pela imaginação através da leitura. Temos que preservar o que o passado nos legou, senão com o tempo seremos um povo sem memória.
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Elda Nympha Cobra Silveira é escritora, artista plástica e membro da A.P.L. GOLP. e CLIP; e-mail: [email protected]