Ditadura nunca mais

Christopher Goulart

 

Pela primeira vez em nossa história, a maior instância judicial do país, nossa corte suprema, condena um ex-presidente por tentativa de golpe militar. Ou seja, a instituição responsável pela defesa de Nossa Carta Magna, agiu com a responsabilidade certeira que lhe compete.

Fico pasmo com aqueles que ainda não compreenderam da gravidade de uma autoridade máxima flertar com regimes ditatoriais. Flertar com assassinatos, sequestros, torturas, cassações e exílio. Ou seja, nosso país, que já tem em suas páginas sombrias da história uma ditadura militar se 21 anos, entra no rumo certo da justiça.

De minha parte, posso contribuir com este “debate” com a legitimidade de quem nasceu no exílio, de quem é neto de um Presidente deposto por um Golpe Militar. João Goulart, condenado a morrer longe de sua Pátria, assassinado ou não, seja no plano em que estiver hoje, de alguma maneira sente que justiça foi feita.

Não apenas Jango, mas todos os brasileiros que tombaram na luta e resistência democrática. E veja, aqui não se trata de ideologizar o golpe. Acontece que Bolsonaro sempre foi entusiasta das atrocidades do regime militar, promovidos pela direita. Fez isso durante toda a sua vida. Logo, é natural que terminasse na cadeia.

Interessante como as narrativas mudam em favor das ocasiões. Dizem os representantes de seu campo político, que não houve crime, pela ausência das tropas na nua, ausência de tanques, ausência da força das armas. Bom, então, ao menos então podemos assinar que sim, 64 foi um golpe militar, algo que até agora essas mesmas forças negavam.

O que se puniu corretamente foi uma tentativa de golpe, pois óbvio que se o golpe houvesse sido consumado, não haveria Constituição para defender. Haveria, isso sim, Ditadores de plantão dispostos apenas a ouvir “sim senhor”!

Na véspera dos 50 anos da morte de João Goulart, sinto-me capacitado para responder não apenas por minha família, como também por tanta gente que sofreu na pele as consequências do regime de exceção. Por tantos brasileiros e brasileiras que não estão mais aqui, mas que com muito orgulho bateriam no peito com lágrimas nos olhos e gritariam com emoção: ditadura, nunca mais!

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Christopher Goulart, advogado, escritor e músico

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